“Aqui na Grécia, os livros são considerados como um produto de luxo e para chegarem ao grande público têm de custar menos de 10 euros e o meu livro ‘Democracia’ não custa menos de 10 euros. Por isso, temos tido vendas limitadas no meu país mas, sobretudo, os mais jovens entram em contacto comigo e mostram-se muito entusiasmados com a história”, disse à Lusa o autor de banda desenhada grego.

O diário gráfico “Democracia”, traduzido em dez línguas, incluindo o português vai ser apresentado pelos autores, Alecos Papadatos e Abraham Kawa, sábado, no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.

Papadatos explica que quis fazer uma “obra profunda” sobre a história política de Atenas e, ao mesmo tempo, vincar que o populismo e a corrupção são os principais inimigos da democracia em toda a Europa.

“Os mais jovens têm demonstrado muito interesse pela história que eu desenhei”, afirma, sublinhando que as consequências da crise económica o surpreenderam na altura em que começou a desenhar a história clássica dos atenienses contra a ditadura.

“Quando comecei a fazer o livro começámos também a viver esta crise económica e financeira aqui na Grécia, como em Portugal. Foi incrível estar a desenhar os combates que decorreram na Antiguidade e ver que a mesma coisa estava a acontecer em frente à minha janela. Esta coincidência foi surpreendente para mim”, recorda.

Segundo Papadatos, a ideia original foi recuperar os “factos históricos” sobre a forma como os gregos alcançaram a democracia como sistema social, apesar das fontes escassas sobre a resistência dos atenienses contra os espartanos e persas.

A figura central do livro começou por ser Clístenes (570 a.c.), um nome controverso e que tinha como ideia um novo sistema de organização para os cidadãos de Atenas.

Segundo alguns historiadores, Clístenes organizou as dez tribos de Atenas, para diminuir a influência política das famílias aristocráticas e para conceder ao povo uma parte do governo alterando o número de representantes no conselho de cidadãos fundado por Sólon no século XVI a.c.

Clístenes, figura sobre a qual as fontes históricas são escassas, acaba por promover um sistema de representatividade local por oposição à oligarquia hereditária estabelecendo “os fundamentos” que permitiram desenvolver um governo democrático.

Apesar dos dados históricos, o autor de “Democracia” explica que, depois de estudar os historiadores modernos, que usaram fontes novas, chegou à conclusão que, afinal, a figura principal de toda a história sobre uma nova forma de governo foi o povo de Atenas, sem o qual teria sido impossível aplicar e desenvolver as reformas.

Para contar a história - em forma de diário gráfico com mais de 200 páginas - o autor criou Leandro, um jovem pintor ateniense, que acompanha e relata as intrigas, os jogos políticos e as batalhas que a cidade-Estado de Atenas trava contra a ditadura de Esparta e, mais tarde, contra os persas.

“Leandro é uma personagem fictícia que, tal como nós, atualmente, é um jovem com desconfiança em relação aos políticos, que vive em condições precárias mas que, através da pintura, consegue retratar os heróis da democracia. É alguém como nós que assiste às mudanças da história”, diz Alecos Papadatos.

“A parte mais importante do livro, para mim, é o momento em que os atenienses expulsam os espartanos que tinham vindo para Atenas estabelecer uma ditadura. É algo que eu vejo com admiração porque estas pessoas decidiram expulsar o totalitarismo espartano num momento em que não havia líderes para a revolta. Queriam proteger os políticos e parlamentares de forma espontânea”, sublinha o autor da obra, acrescentando que se sente “identificado” com os desenhos das batalhas.

“Os desenhos da revolta são importantes para mim, mas também a parte final do álbum, quando os atenienses se colocam em frente do Exército persa para defenderem a democracia que tinham instalado. É aí que revelo todos os meus segredos”, refere Papadacos.

O diário gráfico “Democracia – uma história sobre a coragem de mudar o mundo” (Bertrand Editora, 240 páginas) inclui uma explicação histórica dos autores, um índice das figuras clássicas gregas e um prefácio da historiadora Raquel Varela.

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