SOL SOL - bSI DO SOL - SOL - FA FA# SOL - SOL: estas dez notas do início do tema principal da série "Missão Impossível", tocadas num ritmo em 5/4, tornaram mundialmente famoso Lalo Schifrin, que vive em Los Angeles desde os anos 1960.

Esta semana, o pianista-compositor-orquestrador de 84 anos que assinou inúmeras bandas sonoras de filmes de Hollywood é homenageado em França em quatro eventos: uma retrospectiva na Cinemateca Francesa, uma homenagem no Festival de cinema e música de La Baule, com o lançamento de uma caixa pela Universal e a entrega da insígnia de Comendador das Artes e das Letras pela ministra da Cultura, Audrey Azoulay.

"Quero ir a Paris, não sei se mereço, mas vou para receber tudo. É uma grande honra e vou receber essas homenagens com prazer", disse, entusiasmado, à AFP, na sua casa em Beverly Hills.

Paris e França são muito caras para o músico, nascido em 1932 em Buenos Aires. Schifrin passou quatro anos na capital francesa, de 1952 a 1956: de dia estudava no Conservatório e tinha aulas com Olivier Messiaen, que muito influenciou a sua escrita; à noite, tocava em clubes de jazz.

"Antes de ir para França, estudei numa escola onde a cultura francesa era muito importante", diz. A "cultura francesa sempre me fascinou... quando era criança, o meu livro favorito era 'Os Três Mosqueteiros'".

"Quando cheguei a Paris, quando visitei o Louvre, Notre Dame, foi incrível para mim", acrescenta, comparando esta primeira estadia em França aos 20 anos ao "segundo movimento de uma sonata ou de uma sinfonia".

Após regressar a Buenos Aires, Lalo Schifrin montou uma banda de jazz. O trompetista Dizzy Gillespie apaixona-se pela sua música durante a digressão. "Quando Dizzy me disse: 'Queres vir para os Estados Unidos?' nem pude acreditar!"

Tudo se encaixou como num sonho: tornou-se o pianista de Dizzy e, em seguida, um dos jovens compositores de bandas sonoras para a MGM, onde desenvolveu uma síntese das suas diversas influências.

Jazz e sinfonia

"Não sei se foi uma revolução, mas com a geração de compositores da qual fiz parte, com Jerry Goldsmit e John Williams, cada um se recusou a continuar a velha tradição de Hollywood", disse Schifrin.

Após o sucesso de "Missão: Impossível", exibido como série televisiva pela primeira vez há 50 anos, Lalo Schifrin assinou muitas bandas sonoras de filmes de ação e de espionagem.

Nestas obras, uniu o jazz e a sinfonia a ritmos eletrónicos, acústicos e latinos. Lalo Schifrin também era mestre em justapor instrumentos antigos e contemporâneos - flauta e teclados, baixo elétrico e violinos, sinos e buzinas - para criar paisagens sonoras.

"É um dos melhores 'cozinheiros' das cores. O seus ambientes stressantes, sibilantes, são únicos", afirma o músico francês Mederic Collignon, que recupera muitos dos seus temas no último disco, "Moovies".

"Eu estava muito interessado no contraponto áudio-visual", diz o músico amante de ópera. "A ópera é o filme antes do filme: há ação, argumento, música".

O argentino também tem extenso conhecimento da música popular no mundo. "Isso permitiu-me fazer a música para 'Operação Dragão', onde sei as cores e características da música chinesa", observa ele.

Para Schifrin, "não há diferença entre o jazz, Carmen de Bizet, música brasileira ou canto religioso", o que o levou a editar uma série de discos batizados "Jazz meets the symphony".