Já este ano, Caetano Veloso, em que também assinala os 50 anos do lançamento do disco de estreia, “Domingo” (com Gal Costa), completou a digressão internacional com Teresa Cristina, um ano depois de outro périplo com Gilberto Gil, e prepara-se agora para montar um espetáculo com os três filhos, em outubro, prevendo ainda reeditar o livro de memórias “Verdade Tropical”.

Em entrevista ao El País, em abril deste ano, disse sentir “alguma insatisfação”, por ser “insaciável em termos de fazer coisas na vida”. Quanto a efemérides, entende-as como “um pouco chatas”, garantiu à Folha de S. Paulo, acrescentando que se sente agora “mais anticelebratório” do que em 'datas redondas' do passado.

Talvez pela voracidade que sente, Caetano Veloso revê-se nas palavras escritas por Gilberto Gil em “Não tenho medo da morte”: “Não tenho medo da morte/mas sim medo de morrer”. Como disse em entrevista ao Estadão no ano passado: “Não estou tão seguro de que estarei presente e consciente no momento de morrer. Tenho medo, em geral, da ideia de não estar presente, de não ser”.

Nos 50 anos do músico, o cineasta Walter Salles dedicou-lhe um documentário: "O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece", um verso da canção "Força Estranha" que se aplica ao próprio autor da letra que veio a ser usada por Roberto Carlos.

Caetano Emanuel Vianna Telles Velloso nasceu a 7 de agosto de 1942, em Santo Amaro da Purificação, Salvador. Completa 75 anos, quando se somam 50 do Tropicalismo, o movimento de modernidade da música brasileira que o reuniu a Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, aos Mutantes e a sua irmã, quatro anos mais nova e a quem escolhera o nome, Maria Bethânia.

"Tropicália ou Panis circenses", disco que reunia os nomes da corrente, foi publicado em 1968, mas a via estava definida desde o ano anterior, quando Caetano, Gil e Os Mutantes levaram "Domingo no Parque" ao Festival Record, e Caetano lançou o álbum de estreia, "Domingo", com Gal, que inclui "Alegria, Alegria".

O interesse de Caetano pela música manifestara-se cedo, mas foi nos anos 1960 que se afirmou, sobretudo através da Bossa Nova e de João Gilberto, quando cantava com a irmã em bares de Salvador, como se lê na biografia do seu 'site' oficial.

Os anos de 1963-1966 foram decisivos: estudou Filosofia na Universidade da Bahia, conheceu Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé; compôs para a peça "O Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues, e para "A Exceção e A Regra", de Bertolt Brecht; gravou o primeiro 'single'; fixou-se no Rio de janeiro.

O primeiro álbum em nome próprio - "Caetano Veloso" - é de 1968 e inclui "Tropicália" e "Soy Loco Por Ti, América".

Nesse ano, levou "É Proibido Proibir" ao Festival da TV Globo. O inconformismo valeu-lhe vaias, a desclassificação e as atenções da ditadura militar, que acabou por o deter. Na viragem para 1969, gravou o segundo "Caetano Veloso", este de capa branca, que só seria publicado quando já se encontrava no exílio, em Londres, com Gilberto Gil, companheiro de música e de prisão.

Na capital britânica, compôs para o Brasil - Gal, Bethânia, Elis Regina - e concebeu o terceiro álbum, "Caetano Veloso", onde cantou "Quero Voltar Pra Bahia". Foi publicado em 1970, cerca de dois anos antes do regresso.

Em 1973, lançou o disco experimental "Araçá Azul". A década conheceria ainda o projeto Os Doces Bárbaros, com os companheiros de sempre - Gil, Gal, Bethânia -, e, entre outros, os álbuns "Muito", "Cinema Transcendental" e "Bicho".

Nos anos de 1980 assimilou o rock e o rap, que levou para "Outras Palavras", "Cores e nomes" e "Velô". É o tempo de canções como "Ele Me Deu Um Beijo Na Boca", "Podres Poderes" e "Língua", que cantou com Elza Soares. Em 1986, montou "Chico & Caetano", para a TV Globo, dirigiu "O Cinema Falado". Atuou no Olympia, em Paris, no Festival de Montreux, estreou-se em Nova Iorque, onde gravou com Arto Lindsay.

A década de 1990 é do disco "Circuladô" e de "Fina Estampa", no qual recria clássicos latinos, com Jaques Morelenbaum. É também tempo de celebração do movimento original, com o álbum "Tropicália 2", e o livro de memórias "Verdade Tropical". Cantou "Haiti", rap social, "Cinema Novo" e "Desde Que O Samba É Samba".

Com "Livro", de 1999, que inclui "Navio Negreiro", venceu o Grammy de Melhor Álbum de World Music. Nesta altura, atuou com João Gilberto, em Buenos Aires (acabaria por produzir "João Voz E Violão"). Lançou o CD "Omaggio a Federico e Giulietta".

Participou nos filmes "Fala com Ela", de Pedro Almodóvar, e "Frida", de Julie Taymor, que lhe daria uma nomeação para o Óscar de melhor canção.

O álbum "Noites do Norte" saiu em 2000, seguido de "Eu não peço desculpas" (2002), "A foreign sound" (2004), sobre o cancioneiro norte-americano, e "Cê" (2006), onde se estreia com a bandaCê, que o acompanha na última década, num reforço do seu lado mais rock.

O blogue "Obra Em Progresso" deu origem a "Zii E Zie, Segundo Disco", em 2009, álbum em que ensaiou "transambas" e "transrock". Em 2012, lançou "Abraçaço", Grammy Latino de melhor álbum, produzido pelo filho Moreno Veloso, e que retomaria ao vivo, numa digressão que também passou por Portugal.

"Abraçaço" abre com "Bossa nova é foda". Entre outras canções, tem "O império da lei", dedicada a Dorothy Stang, missionária assassinada no Pará, em 2005, e "Um comunista", sobre o escritor militante Carlos Marighella, autor do "Manual do Guerrilheiro Urbano".

Nos anos mais recentes, Caetano prosseguiu as atuações a solo, com Gilberto Gil ou com a cantora Teresa Cristina, na digressão “Caetano apresenta Teresa”, que também apresentou em Portugal.

Tudo o que se passa à frente e atrás das câmaras!

Receba o melhor do SAPO Mag, semanalmente, no seu email.

Os temas quentes do cinema, da TV e da música!

Ative as notificações do SAPO Mag.

O que está a dar na TV, no cinema e na música!

Siga o SAPO nas redes sociais. Use a #SAPOmag nas suas publicações.