“A surpresa vai ser este novo disco [editado em maio do ano passado], que vou cantar na íntegra, alguns temas antigos dos discos anteriores e também algumas outras surpresas”, disse o fadista em entrevista à agência Lusa.

Questionado sobre quais as surpresas, o fadista não quis adiantar muito, mas disse que não seriam convidados especiais. “Será cantar fados que não se está à espera que eu cante, ou talvez um inédito”, disse.

O álbum “Infinito presente” foi editado em maio do ano passado, e inclui um inédito de Alain Oulman, “A Correr”, com um poema de Manuela de Freitas, e duas composições de José Júlio Paiva, bisavô do fadista.

À Lusa, Camané, que já tinha gravado composições de Oulman, no álbum “Do amor e dos dias”, de 2010, afirmou-se um fã do compositor e perguntou ao filho, Nicholas Oulman, se não se encontraria mais alguma composição do pai, tendo surgido uma que “se adaptou perfeitamente a um poema de Manuela de Freitas”, autora que o fadista canta regularmente.

“Sempre fui um fã do Alain Oulman, desde os álbuns ‘Com que voz’ e ‘Busto’ de Amália Rodrigues, que era a grande inspiradora do Alain”, afirmou à Lusa o fadista.

“Já na antologia ‘O Melhor de Camané 1995-2013”, inclui a ‘Ai, Silvininha, Silvininha’, também do Alain”, recordou.

Quanto ao seu bisavô, José Júlio Paiva, natural da Murtosa, nos arredores de Aveiro, Camané afirmou: “Só consegui ouvir o meu bisavô há dois anos, sabia da existência [dos discos] dele, estão referenciados no livro ‘Ídolos do fado’ [de A. Victor Machado, editado em 1937], mas estavam perdidos nos Estados Unidos, e foi um colecionador que os recuperou [José Moças] e me deu a ouvir”.

“São músicas fantásticas. Para um deles, o Fado Espanhol, escolhi um poema de Fernando Pessoa, “Aqui está-se sossegado”, e supostamente tem alguma influência do fado de Coimbra, até porque ele era dali, de relativamente perto”.

Quanto à outra música, “completamente um fado tradicional de Lisboa”, o “Fado Complementar”, escolheu um poema do frade seiscentista António Chagas, “Conta e tempo”, “que, de certa forma, tem tudo a ver com este ‘Infinito presente’, que é um frade a prestar contas a Deus da vida”.

Estas músicas terão sido compostas por José Júlio Paiva, em 1918, segundo Camané, mas só as gravou em 1925. "Na altura era complicado gravar um disco”.

“Ele tinha muito bom gosto, e as melodias são atuais”, rematou.

No palco de Belém, a acompanhá-lo, vai estar o trio habitual: José Manuel Neto, na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença, na viola, e Paulo Paz, no contrabaixo.

Depois de Lisboa, o fadista, acompanhado pelo mesmo trio, atuará, no dia 29, no Coliseu do Porto, e, no dia 07 de maio, na Arena d’Évora. Pelo meio vai atuar em Saint-Maurice, na Suíça, no Théâtre Du Martolet, no dia 30 de abril.

O álbum foi apresentado pela primeira vez na Culturgest, em Lisboa, há cerca de seis meses. Mas "este [espetáculo], no Centro Cultural de Belém, vai ser diferente. Aliás, todos os espetáculos são diferenets, há um sentir de alma, mas está lá sempre o fado".

Vencedor por duas vezes da Grande Noite do Fado, de Lisboa, em juniores e seniores, detentor de três prémios Amália, entre os quais o de Melhor Intérprete, distinguido com o Prémio Europa David Mourão-Ferreira, da universidade italiana de Bari, Camané, de 49 anos, afirmou que sente que nada fez ainda, e "o melhor está para vir".

"Acho que ainda não fiz nada, que está tudo para a acontecer, nunca fiquei agarrado a nada do que fiz, não sinto nada disso, sinto que está tudo para fazer. É uma coisa estranha, mas é absolutamente verdade. O futuro é que me dá gozo", rematou.

Foto: Tiago David

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