O antropólogo, que fez parte da equipa que preparou a candidatura do Cante Alentejano à classificação de Património Imaterial da Humanidade”, disse à Lusa que a dificuldade está em colocar os CD no mercado de distribuição.

“Não há é forma de colocar os CD à venda, porque há grupos a gravar, mas as edições ficam dentro do grupo, e há projetos musicais que se referenciam ao Cante Alentejano, mas isso já é outra história”, disse Paulo Lima.

“Não houve uma brutal explosão, mas os grupos corais começaram a editar [CD], e depois não há é a circulação destes”, declarou.

Para o investigador, “não é comparável” o que sucedeu ao Fado, depois da sua classificação como Património Imaterial da Humanidade há cinco anos, com a situação do Cante.

“O mais importante no Cante foi ele, de repente, ter passado a ocupar um lugar que nunca tinha ocupado nas últimas décadas, agora que isso se traduza em espetáculos e edições discográficas de maneira nenhuma, agora houve uma maior aceitação”, asseverou.

O investigador realçou a “dimensão regional maior” que o Cante Alentejano teve, pois, “até 2013, o cante era uma coisa de velhos, pouco interessante, e, depois de 2014 [ano da classificação pela UNESCO], esse interesse explodiu”.

“Nós, quando partimos para a candidatura, tínhamos 150 grupos, mas muitos deles não estavam ativos, atualmente temos uns 180, e muitos deles grupos jovens e, depois, temos muita gente que, a partir do cante, produz novos projetos”, como o Pedro Mestre, disse.

Em termos internacionais, a projeção é esporádica, até pelo “facto de os grupos terem muita gente, e é mais complicado em termos de logística”.

O investigador referiu a atuação de grupos no Brasil e em Madrid, em fevereiro passado, e “a ida de uns grupos aos Estados Unidos”. “Agora como expressão de circuito de salas, isso não”.

Onde se “nota uma grande explosão é na área académica, nomeadamente a apresentação de teses e dissertações”, e também em projetos documentais de recolha, como o de Tiago Pereira, o autor do projeto documental "O povo que ainda canta".

O cante alentejano, um canto coletivo, sem recurso a instrumentos e que incorpora música e poesia, foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pelo Comité Intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Humanidade, reunido em Paris, em 27 de novembro de 2014.

Durante a fase de análise, na reunião do comité da UNESCO, a candidatura portuguesa foi considerada como um dos "bons exemplos" das selecionadas pelo comité".

A candidatura do cante alentejano a Património da Humanidade foi entregue à UNESCO em março de 2013, depois de, em 2012, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ter decidido adiar a sua apresentação, por considerar que o processo não reunia condições para ser aceite.