O músico português Samuel Úria edita esta semana o álbum "Carga de Ombro", "mais voltado para dentro", com canções que são recomendações para ele próprio e, ao mesmo tempo, livres de serem apropriadas pelos outros.

Terceiro disco de estúdio, "Carga de Ombro" tem produção de Miguel Ferreira, teclista dos Clã que deixou uma impressão pop, com alguns apontamentos de eletrónica, nas canções escritas por Samuel Úria.

"Queria alguém que pudesse trazer um universo que não era propriamente o meu, que alargasse alguns caminhos e pudesse contrariar-me. As nossas linguagens acabaram por ter pontos de contacto. Por exemplo, usámos coisas caseiras, que eu tinha gravado, na produção final do disco, legitimando um som 'low-fi' de que eu gosto", contou Samuel Úria, em entrevista à agência Lusa.

Tal como nos discos anteriores - "Nem lhe tocava" e "O grande medo do pequeno mundo" - as canções de "Carga de ombro" entram em vários registos e intensidades, da acústica minimal de "Graça comum" à toada gospel de "Ei-lo", com a participação de Selma Uamusse.

"Muitos dos meus discos preferidos têm esse caráter bipolar, com várias intensidades, proporcionando uma viagem; são uma coisa que não está propriamente nivelada, é um subir e descer de uma montanha", explicou.

O disco foi escrito e gravado em Lisboa, em 2015, embora o músico tenha feito um esforço para se abstrair da intensidade e da ansiedade da vida da cidade e remeter-se a um ritmo de tempo de Tondela, onde nasceu, que lhe permite ter uma "largura mental" diferente, disse.

"Carga de ombro" remete ainda para "um determinado espaço de tempo curto", é "minimamente conceptual" - em torno dessa ideia de superação ou de ter um ombro de alguém meramente como um apoio -, e foi rápido a fazer, embora a escrita tenha exigido "muito suor e muita dor", recordou.

"É um disco com recomendações para mim próprio, mas eu não escrevi só para mim. Assim que a música sai, deixa de ter o domínio de quem a criou. Gosto de perder depois a autoridade sobre as canções e ser um espectador para ver no que se tornaram", disse à Lusa Samuel Úria.