Segundo a sinopse da peça, criada por Joana A. Magalhães, que com João Costa e Sara Barros Leitão compõe o trio de atores em palco, o espetáculo “pretende decompor e brincar com a palavra ‘contemporâneo’ e com todo o manancial de códigos que ela implica”.

Assim, em palco estará “uma espécie de coleção de todos estes códigos”, numa “experiência semelhante à de visitar um museu, ou a de ver um ‘best of’ dos truques mais usados”, o que compõe a primeira parte do espetáculo, intitulada “Best of”.

Para o público, além da “instalação performativa” que se desenrola em palco, revelou à Lusa a criadora, Joana A. Magalhães, há também uma “espécie de ‘do it yourself’ [faz tu mesmo], um ‘como fazer o espetáculo mais contemporâneo do mundo’”, que assume também uma componente de “lista de pontos”, ou uma “receita que tem todos os elementos” que a equipa criativa identificou.

Os espectadores podem interagir com os atores e com as várias componentes em cena, “da forma que quiserem”, e em termos cenográficos parte de “várias listas dos objetos mais usados” em espetáculos “ditos contemporâneos”, o que se estende à luz, aos figurinos e ao som, mantendo a ideia de listagem de conceitos e da “receita” de criação teatral.

“Vamos dar uma receita ao público de como fazer o espetáculo mais contemporâneo do mundo, com várias etapas, e de seguida, na própria instalação, o público vai ser convidado a participar”, explicou.

A partir do conceito de teatro pós-dramático, desenvolvido pelo alemão Hans-Thies Lehmann, que escreveu “Teatro Pós-Dramático”, “quase uma bíblia dos códigos pós-dramáticos”, também passam pela obra elementos identificados noutros espetáculos, e a ideia é fazer “quase um funeral do contemporâneo”.

“É mais fazer a despedida do que é dito contemporâneo, uma certa visão do conceito”, acrescentou.

A segunda parte é “uma espécie de conferência performativa, num estilo policial, em que se vai tentar desconstruir esta ideia do que é o espetáculo mais contemporâneo do mundo, e se tenta responder a isso”.

Como um todo, a peça aborda, de forma crítica, “uma certa sensação de que há significantes e códigos que se foram cristalizando, como se só por si garantissem contemporaneidade num espetáculo”, explicou a criadora.

Além do conceito de contemporaneidade, também a “tensão entre as questões teóricas artísticas e o mundo real” está patente, ao lado do “paradoxo da pressão que existe para um espetáculo ser o mais contemporâneo, o mais à frente, e a consciência de que já tudo foi feito”.

A primeira parte, de 30 minutos, pode ser vista no sábado pelas 19:00 e no domingo pelas 15:00, enquanto a etapa complementar, intitulada “A Coisa”, terá récitas no sábado pelas 22:00 e no domingo pelas 18:00.

Apesar de poderem ser vistas de forma independente, Joana A. Magalhães considera que “a forma mais completa” é assistir às duas, ainda que se possa, por exemplo, ver só a segunda, mesmo que ela funcione “quase como resposta à primeira”.