Numa carta dirigida ao presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues (PS), e publicada na sua página oficial do Facebook, a CIL refere que “a Estrela de David sobreposta no coração de uma imagem desenhada de Hitler é uma ofensa grave e indecorosa”.

“Somos contra a censura, mas o direito de livre expressão deve e pode ser travado quando estimula o ódio e a intolerância. A imagem referida é ultrajante e menoriza o horror e a tragédia do Holocausto. Hitler não tramou os judeus com ‘desrespeito’ como referido no texto do Cartoon, tratou os judeus com um extermínio em massa e com uma desumanidade sem limites”, defende esta comunidade.

Nesse sentido, a CIL apela à Câmara de Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, que “se solidarize” com esta posição, manifeste o seu descontentamento e, “se preciso for”, que retire o apoio “público, financiado pelos contribuintes” à iniciativa que, “a coberto da arte, profana a memória de milhões de vítimas que pereceram às mãos de um regime assassino, sanguinário e impiedoso”.

A CIL diz também que o Estado português, “seja a que nível for – nacional, regional ou local – não pode, em circunstância alguma, permitir ou tolerar a relativização do Holocausto”.

“A liberdade artística e de expressão – e também política – termina quando dá lugar ao ódio e à intolerância étnica. É isso que esperamos que a Câmara Municipal de Gaia transmita de forma muito clara à organização desta iniciativa que apoia e patrocina”, apela esta comunidade.

Contactado pela agência Lusa, o município de Gaia respondeu que “não tem qualquer envolvimento ou responsabilidade na direção artística e na curadoria da Bienal”, acrescentando que “qualquer esclarecimento deverá ser feito pela cooperativa Artistas de Gaia”, organizadora do evento.

Em resposta enviada à Lusa, o diretor da Bienal Internacional de Arte Gaia, Agostinho Santos, sublinha que o certame se “assume como uma Bienal de Causas” e, nesse sentido, “assume o compromisso de dar liberdade a cada artista para expressar a sua visão do Mundo, independentemente das orientações individuais manifestadas”.

“O trabalho de Onofre Varela, reconhecido cartoonista, faz referência a Israel na sua perspetiva e já foi publicado há alguns anos na comunicação social. Não significa isso que a Bienal se identifique com qualquer expressão política manifestada pelos artistas representados, mas jamais impedirá que a sua liberdade de expressão seja limitada”, vinca Agostinho Santos.

“Em vésperas das comemorações do 25 de Abril”, a Bienal Internacional de Arte Gaia reforça a luta “pela liberdade de expressão, mesmo que essa mensagem não seja consensual”.

No comunicado hoje divulgado, a CIL refere ainda que “comparar a política externa do Estado de Israel para com a Palestina, com aquilo que Hitler fez aos judeus, é não ter a menor pinga de decência no sangue”.

“É comparar o incomparável. A sátira e o humor podem e devem servir para vincar opiniões e posições políticas. Para suscitar a polémica, convidar à reflexão e à ação. Mas o que a imagem retrata é a expressão do mais puro negacionismo e desconhecimento da história. É de um antissemitismo primário que não deve ser tolerado, quanto mais apoiado e patrocinado”, defende a CIL.

Segundo a organização, a 5.ª edição da Bienal Internacional de Arte Gaia - arrancou a 8 de abril e prolonga-se até 8 de julho – “leva à Quinta da Fiação, em Lever, 20 exposições que reúnem mais de 300 artistas de várias nacionalidades para agitar consciências numa ‘Bienal de Causas’, que este ano homenageia Carlos Carreiro e João Jacinto”.

Com direção a cargo de Agostinho Santos e apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, a Bienal Internacional de Arte Gaia reforça, acrescenta a organização, “a descentralização num plano de recuperação de áreas industriais, ocupando dois pavilhões da antiga Companhia de Fiação de Crestuma ao longo de 6 mil Metros quadrados de área de exposição”.