Esta segunda-feira, em comunicado, Streep manifestou-se quanto às acusações de que Harvey Weinstein é alvo, revelando que tais notícias "espantaram aqueles cujo trabalho ele defendeu ao financiar causas mercedoras", ao mesmo tempo que salientou a coragem das "mulheres destemidas que falaram em denúncia destes assédios".
Contudo, clarificou que Weinstein - com quem colaborou frequentemente em filmes distinguidos pela Academia de Hollywood, como "A Dama de Ferro" (2011) - sempre a "respeitou na relação profissional que estabeleceram", fazendo com que Streep não se apercebesse da conduta ofensiva do fundador da produtora e distribuidora de filmes Weinstein, cuja origem remonta a 2005.
De acordo com o artigo de investigação do jornal The New York Times, as queixas das vítimas dos abusos sexuais tiveram início na década de 1990, quando o magnata se encontrava à frente da produtora Miramax, um estúdio de cinema independente que era propriedade do gigante cinematográfico Walt Disney.
Com opiniões similares, as britânicas Kate Winslet e Judi Dench foram também citadas pela agência internacional Associated Press, classificando as denúncias como "[uma situação] horrível, [da qual] não tinham qualquer conhecimento", com Winslet a admitir que "esperava que este tipo de histórias fossem apenas rumores".
Recorde-se que ambas as atrizes viram as suas prestações serem reconhecidas com Óscares em filmes produzidos pela empresa Weinstein, na categoria de melhor atriz secundária, no caso de Dench ("A Paixão de Shakespeare", 1998), e melhor atriz principal, para Winslet, pelo papel que desempenhou na longa-metragem "O Leitor" (2008).
Jennifer Lawrence, a protagonista de "Guia para um Final Feliz" (2012) - também produzido por Harvey Weinstein -, que lhe valeu um galardão da Academia, em 2013, manifestou a sua gratidão "pela coragem demonstrada pelas mulheres afetadas por estas ações nojentas".
Enquanto Ryan Murphy, Judd Apatow, Mark Ruffalo, Brie Larson e Julianne Moore foram alguns dos atores que condenaram os atos do produtor influente na idústria, através de mensagens no Twitter, a atriz e produtora Lena Duham abordou e desenvolveu o tópico num artigo de opinião visível no 'site' do The New York Times.
Esta foi a mesma publicação na qual figuraram as acusações de abusos sexuais por parte da atriz Ashley Judd - conhecida pelo filme “Frida” ou pela saga “Divergente” - que chamaram a atenção do público para a má conduta do produtor nova-iorquino.
"[Os casos de assédio sexual] não são inéditos [e] ignorar a má conduta continua a ser algo típico para os homens de Hollywood", afirma Duham, aproveitando para citar os casos dos realizadores Woody Allen e Roman Polanski, com este último a ser "considerado um visionário que merece defesa, apesar das suas vítimas continuarem a denunciá-lo."
"O silêncio de Hollywood, em particular o dos homens que trabalharam em proximidade com Weinstein, apenas reforça a cultura que previne as mulheres de falar [em relação a casos de assédio]", conclui a criadora da série de televisão "Girls".
Por último, o presidente da Academia de Hollywood, John Bailey, lamentou o sucedido revelando que sabia que Weinstein "era alguém com quem é difícil trabalhar e que tem uma personalidade forte, mas [que] não fazia de todo ideia [da questão] do abuso sexual".
As declarações foram obtidas aquando da presença de Bailey e de Dawn Hudson - executivo na mesma instituição - num encontro cinematográfico celebrado no Casino de Madrid, esta segunda-feira.
Hudson rejeitou os indícios de que a Academia tivesse silenciado o caso: "Os membros [da Academia] apoiam a tolerância (...) o respeito e não o medo", frisou.
Quanto às medidas que a Academia tomará em resposta ao comportamento de Harvey Weinstein - já galardoado com uma estatueta dourada de melhor filme ("A Paixão de Shakespeare", 1998) - ambos os responsáveis salientam que "é prematuro fazer mais afirmações neste momento".
O conselho de administração da Weinstein decidiu, no domingo, retirar o produtor da empresa, deixando o controlo do estúdio nas mãos do seu irmão, Bob Weinstein, e do diretor de operações David Glasser, tendo lançado um comunicado a dar conta das decisões tomadas.
A decisão sucedeu-se à publicação, pelo New York Times, a 05 de outubro, de uma investigação, baseada em dezenas de testemunhos de antigos e atuais funcionários da empresa, sobre o comportamento do produtor.
Segundo o jornal nova-iorquino, Weinstein chegou a acordos extrajudiciais com pelo menos oito mulheres para resolver acusações de assédio sexual.
Num comunicado então enviado ao jornal, o produtor admitiu que a forma como se comportou no passado com companheiras de trabalho provocou muitos danos, pelo que pediu perdão e uma segunda oportunidade, acrescentando que tenta corrigir a sua forma de atuar há dez anos, com recurso a terapia.
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