Antes de chegar ao palcos de Portugal, antes de editar discos, Jorge Palma aventurou-se pelas ruas e pelos metros das principais cidades da Europa. Desses tempos ficaram muitas histórias, conta Jorge Palma ao SAPO MAG. "Foi um período de três anos ou mais e, portanto, todos os dias aconteciam situações novas. Cantava em Paris e, entre a primavera e o verão, íamos para o sul, para Cannes, Nice e por aí fora. Às vezes para a Suíça ou para a Dinamarca. Sempre a tocar covers. Aprendi a tocar tudo", explica o cantor.

"Lembro-me de tocar dentro das carruagens do metro de Paris e de haver uma pessoa ou outra que dizia 'você está a dar-me cabo dos ouvidos'. Mas a maioria do pessoal gostava e algumas pessoas não saiam na estação prevista e iam até ao fim da linha para me ouvir. Algumas ainda me convidavam para beber um copo e conversar", recorda Jorge Palma.

Entre as centenas de aventuras nos metros e nas ruas das cidades, há uma história que ainda permanece na memória do cantor português. Numa noite em Cannes, cidade francesa conhecida especialmente pelo festival de cinema, Jorge Palma "esperava gente com dinheiro". "Sei que cantei duas canções e uma senhora que estava a jantar deu-me uma nota de 500 francos. Claro que essa noite ficou marcada por isso. Abençoado cover", graceja.

Jorge Palma

Ainda hoje, Jorge Palma diz "dar gosto ao dedo às músicas dos outros". Nos concertos, gosta de viajar pelas bandas sonoras que marcam a sua vida enquanto pessoa e artista. "No metro tocava mais de 80 covers e, por isso, são canções que fazem parte da minha vida. Tocar Bowie, Beatles, Rolling Stones ou Bob Dylan dá sempre gozo", confessa ao SAPO MAG.

Perguntar a um músico qual a importância da música na sua vida é quase como perguntar se poderíamos viver sem respirar. Mas Jorge Palma, entre risos e as sílabas, deixa escapar a resposta. "Associo as músicas a histórias, mensagens, momentos da minha vida, lugares e pessoas... sem música, isto não fazia sentido", frisa.

"Encosta-te a mim", Frágil", "Deixa-me Rir", "Dá-me Lume", "Bairro do Amor", " Jeremias, O Fora-Da-Lei" e "A Gente vai Continuar" são algumas das canções de Jorge Palma que estão na banda sonora da vida de muitos portugueses. Mas qual é a banda sonora da vida de Jorge Palma?

JORGE PALMA

O primeiro disco que comprou ou ouviu?

O primeiro disco que tive foi a minha mãe que me comprou. Como ela adorava música, levava-me a concertos e óperas, e isso determinou a minha aprendizagem, o gosto pela música. Lembro-me que foi o disco pequeno de 45 rotações de Franz Schubert. Mas também ouvia bastante Beethoven.

Quando já estava a chegar à adolescência, comecei a ouvir e a comprar ao meu gosto. Elvis Presley, Charles Aznavour, Gilbert Bécaud e rock americano. Isto tudo antes de Beatles e dessas bandas que ainda andam aí. Mas era muito "Love me tender, love me sweet...".

Primeiro concerto a que assistiu?

O primeiro que me lembro foi o do Arthur Rubinstein no Coliseu de Lisboa, acho eu. Na altura já não era um rapaz novo. Mas fui a muitas óperas de compositores portugueses que, por acaso, na altura achava uma seca quando comparadas com Puccini.

A minha mãe levou-me a muitos concertos. Aliás, ela dizia que quando estava grávida ia a muitos concertos e que o meu gosto para a música vinha de ter ouvido na barriga dela aquelas orquestras e aqueles músicos.

Qual o último disco que comprou?

Ando para comprar discos há dois anos mas oferecem-me sempre ou saco da editora. Mas ando a ouvir Chico Buarque, não sei se é o último disco dele ou não. São 10 canções do Chico, que foi sempre uma grande influência para mim.

Mas que comprei... sei lá. Às vezes compro dos velhotes. Ainda me falta comprar o do David Bowie. Mas ainda tenho discos por ouvir, porque a questão aqui já é de espaço. Ainda não sinto apetite com esta tecnologia de ouvir no telemóvel, eu gosto de ouvir os álbuns.

Jorge Palma

Qual o álbum da sua vida?

É muito difícil de responder a isso. Porque é tanta coisa e comecei muito cedo a descobrir a música, a criar música. Tenho ouvido tanta coisa. Neste momento estou a devorar novamente, quase a decorar, a primeira sinfonia de Mahler.

Daqui a uns dias vou estar a ver o Roger Waters e estou a lembrar-me dos Pink Floyd, do "The Dark Side of the Moon". Até podia ser esse disco. Os Pink Floyd foram muito importantes para mim. Mas é tanta, tanta gente e em áreas diferentes. A lista nunca mais acaba.

Qual a canção que o faz chorar?

Eu não sou muito de chorar, a não ser na altura em que eu bebia copos. Aí comovia-me mais. Mas há canções do Jacques Brel que me comovem profundamente e que levam às lágrimas. Estou a falar do Brel como podia falar de outros compositores clássicos.