“É muito especial. É ouro sobre azul. Poder cantar as ‘Anterianas’ aqui, na terra onde ele nasceu é muito especial”, adiantou, em declarações à Lusa, a soprano Ana Maria Pinto, que assina a obra com a pianista Joana Resende.

Desde 2012 que a soprano e a pianista, naturais do Porto, trabalham para divulgar a poesia portuguesa através da música, tendo começado por Antero de Quental, poeta açoriano que marcou desde cedo Ana Maria Pinto.

“Ele tem um poema que se chama ‘A um poeta’, que é precisamente o poema que abre o disco ‘Anterianas’. Esse poema foi um dos que me marcaram enquanto eu era adolescente. Quando eu o li, de alguma forma aquilo tocou-me. Foi um género de chamamento. Desde então, ficou-me sempre na memória o poeta Antero de Quental”, contou.

O primeiro álbum da dupla, composto por 21 faixas, que incluem quatro recitações de poemas de Antero de Quental, foi lançado em janeiro e desde então foi apresentado um pouco por todo o país.

A última apresentação nacional decorre no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, sexta-feira, às 21:30, onde a soprano e a pianista atuam pela primeira vez.

Desde o primeiro ensaio, em 2012, que as duas artistas perceberam um interesse comum em divulgar a palavra poética portuguesa.

O ciclo de canções que o compositor Luís Freitas Branco dedicou a um conjunto de sonetos de Antero de Quental, chamado “A Ideia”, deu o mote para o projeto “Anterianas”, complementado pela música de Franz Schubert.

“É uma bênção poder trabalhar desta maneira, pegando nas palavras de alguém que era tão visionário, que conhecia tão bem a natureza humana e a sua verdadeira profundidade. Na verdade, sempre que estamos a tocar este ciclo de canções e a cantar Antero de Quental, estamos sempre a aprender, pelo menos eu tenho sempre esta sensação, porque são poemas que se renovam dentro de nós”, salientou Ana Maria Pinto.

A atuação na ilha de São Miguel é a última apresentação prevista em Portugal, mas o disco começa a ganhar destaque a nível internacional.

“O projeto está um pouco fora de portas, porque entretanto foi conhecido na Holanda e em São Paulo e tem tido um acolhimento muito carinhoso. As pessoas apreciam bastante o trabalho específico que fazemos, porque é um projeto algo diferente. Incluímos poesia, música portuguesa e Franz Schubert. Não é à partida um casamento tão linear assim. Foi a maneira orgânica que nós encontrámos de mover a ideia que tínhamos”, adiantou Joana Resende.

Antero de Quental, nascido em Ponta Delgada, há 175 anos, foi um poeta, filósofo e agitador político, considerado um dos grandes sonetistas da literatura portuguesa.