Hoje cantei "de coração" pela paz, disse à AFP este integrante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), depois de atuar na noite de sábado no palco da Décima Conferência Nacional Guerrilheira, que deve ratificar a paz alcançada com o governo.

"Estou muito feliz de saber que finalmente vamos descansar desta guerra (...). Somos todos irmãos, não deveríamos matar-nos", acrescentou Esteban, um afro-colombiano procedente de Cali, onde aprendeu a ser rapper.

Este é o desejo e a mensagem da música deste integrante do Bloco Oriental das Farc, que foi convidado ao palco pelo Alerta Kamarada, o grupo que inaugurou as atuações diárias de bandas musicais no evento guerrilheiro.

"Estamos muito orgulhosos de ter podido cruzar o seu caminho", disse Pablo Araoz, guitarrista deste grupo de reggae de Bogotá, famoso pelo seu discurso de reivindicação social.

Alerta Kamarada conheceu Esteban apenas ao chegar ao enclave da conferência, na remota região El Diamante, no Caguán, tradicional reduto das Farc no sudeste da Colômbia.

"Quando estávamos a testar o som, a cantar a cúmbia do amor, Esteban subiu e cantou o seu rap, mostrou seu 'flow' e ficámos apaixonados pelo seu estilo. E dissemos-lhe: 'Tens de estar conosco no concerto'", contou Araoz, destacando o seu "talento digno de ser conhecido".

Embora tenha admitido que não é fácil chegar através do reggae a um grupo de camponeses que está acostumado a outras músicas, o guitarrista ressaltou que o momento que a Colômbia vive mostra que já "não existem fronteiras", e guerrilheiros urbanos e camponeses já não estão tão distantes.

"Campo e cidade juntos porque vamos de mãos dadas. Todos somos colombianos", enfatizou.

"Colaboradores da paz"  

Centenas de guerrilheiros acompanhavam entusiasmados o espetáculo diante do enorme palco com três ecrãs gigantes instalado no prédio onde a conferência decorre.

Entre os que dançavam havia representantes da equipa da guerrilha que desde novembro de 2012 negociou a paz com o governo de Juan Manuel Santos, e delegados de todo o país que acompanham o encontro, que deve aprovar nesta semana o acordo para colocar fim a mais de meio século de conflito armado.

"O jovem Esteban é uma maravilha", disse "Gabriel", de 35 anos, um dos combatentes que assistia ao concerto com a sua namorada. Para este guerrilheiro, não há dúvida da importância do acordo de paz. "Para o povo colombiano é muito importante sair deste conflito que já dura mais de 50 anos", comentou.

A conferência das Farc, a primeira da guerrilha criada em 1964 que é autorizada pelo governo e aberta à imprensa, também planeia iniciar a transição para se converter num movimento político sem armas.