“É uma homenagem muito especial porque estamos aqui a recriar a exposição que Amadeo de Souza Cardoso há 100 anos fez no Porto, no Jardim Passos Manuel. Os quadros aqui não são todos, mas alguns, uma grande parte, daqueles mesmos quadros que foram expostos em 1916 com as reações da época, alguns admirando outros rejeitando”, afirmou aos jornalistas o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, na passada segunda-feira.

Numa inauguração que contou com sala cheia e com a presença de figuras como o arquiteto Siza Vieira, o antigo ministro Miguel Cadilhe e o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, Castro Mendes lembrou a “dualidade” que acolheu a exposição de 1916 agora recriada no Porto, quando muita imprensa a rotulou de uma “arte de loucos, de manicómio” à semelhança do que se havia passado em 1915 com o grupo da Orpheu.

“Estas obras agitavam os espíritos e não apenas suscitavam rejeição, mas criavam também simpatia”, disse Luís Filipe Castro Mendes, realçando que o Porto estava “no eixo da afirmação cosmopolita do corte modernista”.

81 das 114 obras de Amadeo de Souza Cardoso expostas no Porto em 1916, na única exposição individual do artista, compõem a mostra hoje inaugurada no Soares dos Reis, onde permanece até ao final do ano, antes de seguir para Lisboa em janeiro.

“As obras que Amadeo decidiu expor [em 1916] estão hoje dispersas por diversas coleções públicas e privadas. Reuni-las, procurando refazer os gestos e as opções do malogrado pintor [que morreria, inesperadamente, em 1918, com 30 anos de idade] é, em primeiro lugar, uma homenagem”, indica a descrição da exposição, que conta com curadoria das investigadoras Raquel Henriques da Silva e Marta Soares.

Em declarações à agência Lusa, em agosto, quando do anúncio da mostra, a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, ex-diretora do Museu do Chiado e do antigo Instituto Português de Museus, lembrou que “aquilo que se diz desta exposição é sempre um aspeto anedótico mais castiço, que as pessoas não perceberam nada, que foi um escândalo, que lhe cuspiram para os quadros, que lhe deram pancada”, mas há que acrescentar que a exposição de 1916, no Jardim Passos Manuel, no Porto, e na Liga Naval Portuguesa, em Lisboa, levou a um debate sobre o que era arte contemporânea.