O programa foi hoje apresentado no Centro Cultural de Belém (CCB), que alberga, a partir de hoje e até 17 de abril, a exposição antológica “Mário Cesariny: De cor e salteado”, composta por mais de 30 obras de arte da Coleção de Mário Cesariny, incluindo algumas das mais antigas.

Os desenhos, pinturas e até alguma poesia que estão expostos no Centro de Congressos e Reuniões do CCB pertencem à Fundação Cupertino Miranda, detentora de um importante e representativo acervo de arte do surrealismo português.

A obra exposta consiste em trabalhos de colagem sobre papel, aguadas com tinta-da-china e, por vezes, também com café, desenhos com caneta de aparo, pintura com guache e verniz, acrílico e têmpera.

Algumas obras de escultura estão igualmente expostas, como a de uma bota com acrílico e pedra, na qual se pode ler “Lucky boot that came ashore on the sands of Sesimbra on the first June 1973”.

A abrir a exposição está o poema “Faz-se luz”, retirado do livro “Pena Capital”, que ocupa uma parede inteira.

o diretor da Fundação Cupertino de Miranda, António Gonçalves, salientou a criatividade do trabalho artístico de Cesariny, algum intitulado “sismofiguras”, que consistia em sentar-se no elétrico com um lápis encostado a uma folha e deixar os rabiscos surgirem ao ritmo do movimento do elétrico, ou “soprofiguras”, trabalhos plásticos que resultavam de “soprar a tinta-da-china”.

O tributo prestado a Mário Cesariny não se fica por esta exposição e conta com uma série de outras iniciativas.

O presidente do CCB, Elísio Summavielle, revelou aos jornalistas que, para celebrar o Dia Mundial da Poesia, o CCB apresenta, no dia 25 [sábado], uma série de iniciativas” de entrada livre, entre as quais uma vídeo-instalação de 16 minutos, “Poema Colagem – Homenagem a Mário Cesariny”, e um documentário sobre o artista – “Autografia” –, realizado por Miguel Gonçalves Mendes, com a duração de 90 minutos.

No mesmo dia, decorre ainda uma maratona de leitura, com “Mário Cesariny dito por diferentes personalidades”, e uma conversa sobre o artista.

José Manuel dos Santos, escritor, curador e programador cultural, responsável da Fundação EDP, evocou as diversas facetas artísticas do “grande poeta que era Mário Cesariny, que está sempre a ser descoberto e que, por isso, continua vivíssimo”.

“Muitas vezes se disse que era um poeta que também pintava. Poderia dizer-se o contrário, porque a sua pintura, como a poesia, era muito inovadora”, afirmou.

O administrador e diretor cultural da Fundação EDP enalteceu ainda o “pioneirismo extraordinário” de Mário Cesariny, que “nos anos 40 estava a fazer coisas que ninguém fazia”, considerando que a sua obra era “poderosíssima” e que “o facto de ter sido um grande poeta prejudicou o facto de ser também um grande pintor”.

Mas José Manuel dos Santos lembrou também o “grande apreciador de música” que era, tendo aprendido a tocar piano com Lopes Graça.

“Mário Cesariny sentava-se ao piano, punha a tocar no gira-discos o concerto para piano e orquestra de Grieg, e tocava ao mesmo tempo”, contou, referindo que por isso essa será uma das peças que serão tocadas pela Orquestra Sinfónica Juvenil no dia 25 no “Tributo a Mário Cesariny”.

A orquestra vai tocar também outras obras de que Cesariny gostava, como a abertura de “Tristão e Isolda”, de Wagner, e as valsas de Erik Satie.

Em estreia mundial será tocada uma composição de Christopher Bochmann, feita a partir de versos de Cesariny.

A Casa Pia também evoca o poeta surrealista, lendo a sua poesia e executando peças de Ravel, Georg Frideric Handel e Johann Sebastian Bach.

No dia do aniversário de Cesariny, 9 de agosto, haverá uma evocação do artista no Largo da Oliveirinha, um pequeno largo situado junto à Calçada da Glória, num dos seus percursos preferidos por Lisboa.

Em setembro será inaugurada uma exposição de fotografias sobre Cesariny, da autoria de Duarte Belo e Susana Paiva, na Galeria do Núcleo Museológico do Cemitério dos Prazeres, e, em novembro, terão lugar os “XI Encontros Mário Cesariny”, organizados pela Fundação Cupertino de Miranda, na data da morte do artista, com poesia dita, apresentação de livros e uma seleção dos melhores espetáculos dedicados ao poeta, realizados ao longo dos X Encontros anuais.

Em outubro será lançada uma recensão crítica sobre a obra de Mário Cesariny, pela Assírio e Alvim.