Em 2012, Luís Lima morreu vítima de cancro, o que levou os seus amigos de infância a realizarem um festival de música e a criarem uma associação cultural com o seu nome para recordar e homenagear a sua vida.

O festival tem crescido ano após ano, fixando-se agora nos dois mil espetadores, limite da lotação total do espaço cedido para o efeito pela Oliva Creative Factory de São João da Madeira.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Cultural Luís Lima (ACLL), Tiago Valente dos Santos, reconheceu que as características do amigo eram “extraordinárias e facilitadoras de criar um movimento à volta dele”.

“A maneira como ele aprendeu a enfrentar a doença foi uma coisa que nos marcou a todos. Não é fácil para mim falar disto sem me 'desmanchar', mas o que há a dizer?”, confessou Tiago, seguindo-se um curto silêncio, até que rematou: “Às vezes chego a achar que o Luís era tão grande que era maior do que a vida, e que a vida não conseguia aguentar com ele”.

O economista de 28 anos explicou que a ACLL existe graças ao festival, criado em 2013 quatro meses após a morte de Luís Lima.

Apesar de o festival existir desde 2013 – muito graças ao apoio de outra instituição histórica da cidade, a Associação de Jovens Ecos Urbanos –, a ACLL apenas foi criada em 2015, porque, segundo Tiago Santos, existiu a necessidade de se organizarem “enquanto grupo de pessoas que desenvolve atividades culturais”.

“Nós desenvolvemos duas atividades em contínuo, que são o PSR e um conjunto de conferências que assentam numa marca que criámos, a 'Thinkspace', em que convidamos oradores para virem discutir temas que a direção da ACLL considera pertinentes para a sociedade civil de São João da Madeira, tais como a eutanásia, cuidados paliativos e os benefícios do voluntariado”, apontou.

A associação fundada pelos amigos próximos e os pais de Luís Lima assenta em três pilares: homenagem, promoção de atividades culturais e solidariedade, com o apoio a causas sociais.

Nas últimas quatro edições do festival, mais de 90% da receita de bilheteira foi doada a instituições que apoiam causas sociais, recordando assim Luís Lima, que também fazia voluntariado junto de sem-abrigo e pessoas em risco.

“A causa social que escolhemos nos primeiros três anos teve a ver com um projeto dos Ecos Urbanos, chamado 'Apadrinhe esta Ideia', cujo objetivo era adquirir bens alimentícios para as famílias que estão no centro comunitário da associação”, revelou o responsável da associação que depois se tornou “mais ambiciosa” e contactou a Liga Portuguesa Contra o Cancro para financiar “projetos de investigação na luta contra o cancro”.

Os representantes da ACLL e os membros da organização do Party Sleep Repeat trabalham a tempo inteiro fora da cidade, sendo que apenas um dos elementos opera na área de organização de eventos, o que, aliado à doação da receita da bilheteira, torna este festival um desafio constante.

“É sempre desafiante para nós começarmos a construir o festival a partir do zero (…) Graças ao espírito voluntarioso dos elementos que representam a ACLL, à boa vontade de ‘designers’ que nos possam fazer materiais de comunicação, a competências técnicas de uma ou outra pessoa da associação, é uma teia multidisciplinar que aplica os seus conhecimentos neste trabalho associativo”, afirmou.

Apesar das suas limitações, o festival que, segundo os seus organizadores é “uma festa onde se celebra a amizade e o amor”, já foi distinguido com os prémios de melhor festival ‘indoor’ a nível ibérico, pela edição de 2015, e o melhor festival de pequena dimensão em território nacional, pela edição de 2016, atribuídos pelos Iberian Festival Awards.

“Nós perdemos horas de sono com isto todos os anos e não temos qualquer benefício a não ser emocional. Ver que isso é reconhecido por pessoas da área é muito bom, mas melhor ainda é sermos reconhecidos pelas pessoas que frequentam o festival. (…)Nós não podemos ir para planos comerciais com este festival, ou para fazer contactos, ou para fazermos receitas de bilheteira, porque não é nada disso que nos move. O que nos move é querermos fazer uma coisa em condições e que lembre o Luís”, declarou.

O festival Party Sleep Repeat vai levar a S. João da Madeira, a 22 de abril, artistas como The Legendary Tiger Man e os madrilenos Baywaves, disponibilizando viagens grátis a partir do Porto.

O PSR contará ainda com as atuações de DJ como Adão, A Boy Named Sue e La Flama Blanca.

Os bilhetes têm preços entre os sete e os 10 euros, consoante a data de aquisição, e a receita da bilheteira reverte para o projeto "Apadrinhe Esta Ideia", da Associação de Jovens Ecos Urbanos, assim como para trabalhos de investigação da Liga Portuguesa Contra o Cancro.