Em declarações à agência Lusa, o realizador referiu que embora o filme tenha sido feito ao longo de anos, remete para dois dias da vida de Mário Cláudio, condensando "as atividades que permitem revelar a personagem e suscitar curiosidade sobre este grandíssimo escritor e incentivar as pessoas à leitura dos seus livros".

"Mário Cláudio, apesar de muito conhecido, não é muito lido. Há quem diga que tem uma escrita difícil, mas não é verdade. Uma vez começando a lê-lo, torna-se difícil parar", assinalou Jorge Campos.

O título "Tocata e Fuga" foi escolhido por ter a ver com a escrita de Mário Cláudio que é, descreveu Jorge Campos, organizada de um modo bastante barroco.

O filme é, continuou o realizador, sobre o escritor Mário Cláudio, mas não é um filme sobre literatura: "É um filme em que o cineasta procurou transformar o escritor em personagem".

"Ao invés se optar pela monografia simples, o que procurei fazer foi entrar no jogo que o Mário Cláudio faz muitas vezes que é uma espécie de jogo de faz de conta em que as personagens que ele apresenta como reais são muitas vezes inventadas por ele e são personagens confrontadas com muitos caminhos e muitos enigmas", acrescenta.

Jorge Campos moveu-se no meio de labirintos, caminhos e máscaras e pelos múltiplos retratos que povoam as casas de Mário Cláudio, seja no Porto ou em Paredes de Coura, numa estratégia muito semelhante à construção de um puzzle.

E Jorge Campos confidencia mesmo que o que fez ao realizar "Os Dias de Mário Cláudio - Tocata e Fuga" não foi mais do que "copiar" o que o próprio escritor fez recentemente num dos seus mais célebres romances, "Tiago Veiga".

"Mário Cláudio conta a história de outro imenso escritor e enorme poeta, servindo-se de Tiago Veiga para traçar um retrato absolutamente fabuloso do século XX português. E no início do livro há uma conversa em que Tiago Veiga pede a Mário Cláudio que lhe faça uma biografia, assim a modos de uma reportagem", conta Jorge Campos.

Ora, o filme começa exatamente com alusão ao pedido de que seja escrita uma biografia para "provar que toda a biografia é um romance" e os objetos assumem "muita importância", uma vez que Mário Cláudio é um colecionador de enigmas que estão representados nas suas coleções de brinquedos de infância, soldadinhos de chumbo, marcaras do carnaval de Veneza ou em inúmeros retratos que diversos artistas fizeram sobre si.

"Trata-se de uma proposta ao público para que juntando as diversas peças tire a sua conclusão sobre esta personagem", resume Jorge Campos.

À volta do protagonista rodam outras pessoas, entre as quais o próprio realizador, a mãe do escritor, Maria da Conceição Barbot Costa, um amigo, Michael Lloyd, bem como e entre outros Alexandre Quintanilha.

Produzido por José Alberto Pinheiro, "Tocata e Fuga - Os Dias de Mário Cláudio" estreia às 19:00 de domingo na Biblioteca Almeida Garrett no Porto, numa sessão integrada na Feira do Livro do Porto.