Annie Leibovitz é indiscutivelmente a fotógrafa viva mais famosa do mundo – graças em grande parte às figuras icónicas que captou nos seus 50 anos de carreira.

Rara é a celebridade que não esteve perante as suas lentes: desde um John Lennon nu a abraçar a sua esposa Yoko Ono numa cama (poucas horas antes de ser morto a tiro) até uma Demi Moore grávida (e também nua), e líderes mundiais como a Rainha Isabel e os Presidente Barack Obama e Emmanuel Macron, além de Serena Williams e Kim Kardashian.

Muitos veem a fotografia como ameaçada pelo surgimento da Inteligência Artificial (IA), que pode gerar imagens a partir de simples instruções de texto.

Mas a famosa fotógrafa convida-nos a não sermos "tímidos" e a "aprender a usar" estas novas ferramentas ao serviço da arte.

"Isso não me preocupa de todo", afirmou em entrevista à France-Presse.

Esta quarta-feira, Annie Leibovitz será nomeada associada estrangeira da Academia de Belas-Artes de Paris pelo fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.

"Temos à nossa disposição uma nova paleta de ferramentas para chegar a novas formas de apresentação. Não devemos ser tímidos. A cada avanço tecnológico surgem hesitações, preocupações. Basta dar o passo e aprender a utilizá-las. A fotografia em si não é real. É arte", argumenta.

"Sou uma retratista, gosto de coisas conceituais, Photoshop, todas as ferramentas disponíveis".

Mas "no jornalismo existe um código. Não se pode brincar com o que se vê. Embora haja um ponto de vista, quando decidem onde vão tirar a foto, qual o enquadramento", afirma a fotógrafa, de 74 anos.

As suas imagens instantâneas de momentos históricos, como o helicóptero de Richard Nixon a descolar da Casa Branca após a sua demissão em 1974, deram a volta ao mundo.

A sua carreira começou em 1970 na revista Rolling Stone. Desde o início da década de 1980, Leibovitz expandiu o seu repertório com trabalhos para Vanity Fair, Vogue e projetos independentes.

O seu último trabalho "Wonderland", publicado em 2021, analisa cinco décadas de fotografias da moda.

"Uma grande honra"

Esta quarta-feira, durante o seu encontro no Palácio do Institut de France [Instituto da França], a diretora editorial da revista Vogue, Anna Wintour, irá presenteá-la com a sua espada de académica.

"É uma grande honra, mas é uma honra ainda maior para a fotografia", diz Leibovitz, para quem "a Academia chegou tarde à fotografia".

"É uma arte nova para ela, recebeu um fotógrafo pela primeira vez em 2004", afirma.

"Gosto de estar atrás das câmaras, não na frente. Mas chega uma altura em que se percebe, quando também se tem filhos, que é preciso superar uma etapa e estar presente para a próxima geração de artistas e fotógrafos. Depois de mais de 50 anos de carreira na fotografia, acho que faz parte", diz.

A margem do Sena, onde está localizado o Institut de France, traz lembranças à fotógrafa veterana.

"Quando estudava fotografia, o (fotógrafo francês (Henri) Cartier-Bresson era um dos meus heróis. Portanto, estar aqui, a poucos passos da Ponte Nova que ele tanto gostava de fotografar, é realmente impressionante", confidencia.

Enquanto a artista americana vivia em Paris com a escritora Susan Sontag, a sua companheira desde o final dos anos 1980 até à sua morte em 2004, "estávamos sempre a passar [em frente ao Institut de France]. Eu não sabia o que era. Provavelmente, a Susan sabia", explica.