De acordo com o livro "Jazz na Terceira: 80 anos de história", de João Moreira dos Santos e António Rubio, a base das Lajes foi o "grande centro de difusão jazzístico da ilha", primeiro com as bandas militares inglesas ('station bands'), que também atuavam fora da base, e, mais tarde, com os concertos promovidos pela United Service Organization, que angariava fundos para promover espetáculos de entretenimento para os militares dos Estados Unidos.

O festival AngraJazz realiza-se há 17 anos, na ilha Terceira e, durante três dias, o grande auditório do Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo fica cheio, sobretudo devido à adesão da população local, como salienta à Lusa José Ribeiro Pinto, da Associação Cultural AngraJazz, a poucos dias da celebração do Dia Internacional do Jazz, a 30 de abril.

"Há, de facto, uma quantidade enorme de gente que gosta de jazz e que enche o festival todas as noites. Não temos dificuldades nenhumas em vender os bilhetes", disse o responsável da associação que organiza o AngraJazz.

Pelo festival já passaram músicos como o contrabaixista Dave Holland, os pianistas Herbie Hancock e Jason Moran, o saxofonista Charles Lloyd, os cantores Kurt Elling e Gregory Porter, e, segundo José Ribeiro Pinto, o festival já "faz parte do calendário jazzístico português".

Ainda que o primeiro contacto da ilha com o jazz tenha ocorrido através da rádio, como no resto do país, foi a presença dos militares, primeiro britânicos e mais tarde norte-americanos, que teve maior impacto na formação do gosto, por este estilo musical.

Glenn Miller dirigiu um dos seus últimos concertos na base das Lajes, em 1944, local onde, um ano mais tarde, Frank Sinatra deu o seu primeiro espetáculo em território português.

Apesar de o concerto ter sido destinado aos militares norte-americanos, Frank Sinatra passeou-se pelas ruas de Angra do Heroísmo, onde, segundo a imprensa local da época, deu autógrafos e comprou uma máquina fotográfica Zeiss.

No final dos anos de 1940 e no início dos anos de 1950, passaram ainda pela base das Lajes nomes como o pianista e chefe de orquestra Stan Kenton, as cantoras June Christy e Rosemary Clooney, os saxofonistas Lee Konitz e Zoot Sims, até mesmo o compositor e pianista Irving Berlin, autor de "Puttin'on the Ritz", "Alexander's ragtime band", "Cheek to cheek" e "God bless America", entre outros 'standards'.

Ainda que a maior parte da população não tivesse acesso à base das Lajes, alguns músicos locais também se deixaram influenciar pelo jazz e começaram a surgir grupos, como a Olmmar Band, a Aerojazz e, mais tarde, a Flama Combo, que atuavam para os norte-americanos, também nos bares locais.

"Terão tido uma duração maior ou um certo conforto financeiro maior do que hoje em dia, porque tinham grande facilidade de tocar na base. Eles tocavam pelo menos todas as semanas na base", salientou José Ribeiro Pinto.

Os músicos que tocavam na base tinham também acesso ao BX, loja de produtos norte-americanos, onde encontravam os mais recentes discos de jazz da época, que não entravam no mercado discográfico português.

Segundo o membro da Associação Cultural AngraJazz, o músico terceirense Luís Soares "terá sido provavelmente o primeiro guitarrista de jazz português".

A Força Aérea norte-americana atribuía uma importância tão grande aos concertos de jazz, que contratou, no final dos anos 40, o músico macaense Art Carneiro, que, de acordo com o livro "Jazz na Terceira: 80 anos de história", recebia na altura dez contos por mês, o mesmo que o Governador Civil de Angra.

"Art Carneiro foi contratado de propósito para vir para cá e formou uma orquestra cá, a pedido dos norte-americanos, para animar a base. Ele tocava quase todos os dias nos clubes da base", frisou Ribeiro Pinto.

O festival internacional AngraJazz realizar-se-á este ano nos dias 13 a 15 de outubro. Nos próximos dias 20 e 21 de maio, terá lugar o +Jazz, que se realiza, pelo quinto ano consecutivo, em Angra do Heroísmo, com o apoio da câmara e o objetivo de incentivar o gosto por novas sonoridades, entre o público mais jovem.

O Dia Internacional do Jazz foi criado em 2012 pela organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e anunciado pelo pianista e embaixador da boa vontade da UNESCO, Herbie Hancock.

O jazz está associado à luta pela liberdade e à abolição da escravatura e, por isso, a sua comemoração, de acordo com a UNESCO, tem como objetivo lembrar o seu contributo para a promoção de diferentes culturas e povos ao longo da história.