"Para mim, esta exposição é uma paisagem metafísica, uma arquitetura sensível. Esta é uma exposição 'hors-champ' [fora de campo], no sentido cinematográfico do termo. Tudo está noutro lugar e tudo está presente", descreveu Mathieu Copeland à agência Lusa, a propósito deste projeto que começou nos jardins da Gulbenkian, em Lisboa, e que vai estar até 17 de dezembro em Paris.

De facto, à primeira vista, as salas da delegação francesa da Gulbenkian estão vazias, envolvidas por paredes brancas sem nada afixado, mas há uma polifonia de sons, oriundos de 32 colunas que pendem do teto, que vão enchendo o espaço desta que foi intitulada "A exposição de um sonho" ("L'exposition d'un rêve").

A exposição nasceu da ideia de "como dar forma aos sonhos", de acordo com o diretor da delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian, Miguel Magalhães, que explicou que "trabalhar a imagem mental foi o primeiro objetivo".

"O objetivo inicial não era fazer uma exposição sonora, era fazer uma exposição sobre imagens mentais e sobre os sonhos. Entretanto, as discussões levaram-nos a uma exposição sonora, portanto, isto continua a ser uma exposição em torno de imagens", descreveu.

Primeiro, os "sonhos" foram encomendados a 12 artistas visuais, dramaturgos, cineastas, pintores e músicos e depois foram "musicados" pelo alemão FM Einheit, um dos fundadores, nos anos de 1980, da música industrial com o grupo Einstürzende Neubauten.

As 12 peças compostas por FM Einheit - gravadas no Grande Auditório e no Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação Calouste Gulbenkian, com a participação de vários músicos e do Coro Gulbenkian - chegaram a Paris e foram sujeitas a mais uma interpretação do compositor em função de mandalas.

Como cada som de cada música foi gravado numa pista autónoma, FM Einheit organizou a projeção espacial dos sons com o objetivo de desenhar linhas abstratas que recriassem as ditas mandalas, ou seja, os diagramas geométricos encomendados a Philippe Decrauzat, Myriam Gourfink, Olivier Mosset e Eduardo Terrazas e outros retomados de Almada Negreiros.

"Eu posso reinterpretar as minhas próprias composições, ao fragmentá-las e ao colocá-las em salas diferentes, usando, como guia, os desenhos de mandalas. É mesmo psicadélico. Há muitas possibilidades, mas tentámos seguir as mandalas para não se ficar perdido na selva dos altifalantes", contou o músico FM Einheit.

Tal como o compositor, o espetador tem um papel fundamental na exposição, de acordo com o comissário que sublinhou a noção de uma "polifonia concebida por um autor-múltiplo".

"Cada sonho tem a autonomia de um texto, cada canção de FM [Einheit] tem a autoridade de um autor e cada desenho é um desenho de um artista. No entanto, a experiência que temos no espaço de exposição é uma experiência sensorial, em que não se pode atribuir a sua génese a uma única pessoa. Uma polifonia de pessoas cria um conjunto que é a exposição", resumiu.

Como numa ópera, à entrada da exposição cada visitante recebe um "libretto", com as imagens das mandalas e com os textos sobre os sonhos encomendados, por exemplo, ao realizador tailandês Apichatpong Weerasethakul, ao cineasta luso-americano Gabriel Abrantes e ao artista plástico português Alexandre Estrela, entre muitos outros artistas.

Depois, o espectador-ouvinte deambula "como se estivesse num sonho acordado", com a luz natural a entrar pela janela que dá para o Boulevard de la Tour Maubourg.

"Esta deambulação no espaço faz-nos recompor toda esta composição global que é a exposição. Isto durante uma hora e meia, que corresponde ao tempo para ouvir as 12 canções. Porém, estas canções serão difundidas num segundo momento que vai ser uma nova experiência, porque vão ser tocadas em função de outras mandalas. E por aí adiante", concluiu Mathieu Copeland.

Para a exposição foi editado um catálogo, ou melhor, um "libretto de um catálogo", paginado com o design da coleção "Textos Clássicos" da Gulbenkian, no qual há entrevistas com os artistas que participaram na exposição, textos sobre os sonhos - nomeadamente de um dos discípulos do surrealista André Breton, Jean-Michel Goutier, e textos e poemas de Ana Hatherly - e pistas de reflexão para "ir para além da exposição".

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