“Este é um dos projetos da minha vida, não o projeto da minha vida. Agora que vamos lançar o disco, estamos num ponto em que ‘Planets’ não tem fim. Com cada descoberta significativa nos planetas, temos de voltar atrás e mexer na composição. Se for como quero, este projeto vai perdurar muito tempo para lá da minha morte, com alguém a continuar o nosso trabalho consoante o avanço do conhecimento humano”, contou o produtor, compositor e DJ norte-americano, em entrevista à Lusa a partir de Miami.

Com o compositor francês Sylvain Griotto a cargo dos arranjos para orquestra, a peça é uma “revisitação” da obra homónima de Gustav Holst que Jeff Mills tem vindo a desenvolver desde 2005 a partir do desenvolvimento do conhecimento humano sobre os planetas da Via Láctea.

Ao todo, são nove faixas sobre os planetas e nove outras “mais misteriosas e experimentais” sobre o espaço, num disco editado em vários formatos através da editora fundada pelo DJ e compositor, a Axis Records.

Depois da gravação ao vivo, em julho de 2015, com a Orquestra Sinfónica do Porto na Casa da Música, o álbum passou por várias fases de mistura, tendo sido concluído nos estúdios Abbey Road, em Londres.

Mills é um nome ligado há décadas à música de dança eletrónica, responsável por temas como “The Bells”, que pelo ano 2000 começou a debruçar-se mais sobre a clássica, depois de fazer uma banda sonora para “Metropolis” de Fritz Lang, estreando-se mais tarde com orquestra em 2005, em França.

“Planets” será, como admitiu o músico, um projeto menos interessado na divisão entre música clássica e eletrónica e mais focado “nos amantes da música, que são as pessoas que estarão mais interessadas no álbum, independentemente de virem da música clássica ou da eletrónica”.

O norte-americano pensa que o disco “vai apelar mais a pessoas que amam a música como arte e não tanto os entusiastas de ‘techno’ que querem sair à noite ou os ouvintes puristas de música clássica”.

“Música é só uma forma de nos expressarmos e é possível fazer isso com samba à terça, techno à quinta e gospel ao domingo. A questão do género não é tão importante como a mensagem da música em si”, comentou.

Também os amantes de ciência, astrologia, ficção científica poderão encontrar “uma forma interessante de perceber como os planetas são abordados pela música eletrónica e clássica”, referiu Mills.

“A combinação entre clássica e eletrónica está tão proximamente interligada que é difícil para o ouvinte determinar o que é o quê. Fizemos este arranjo para que não seja apenas o encontro de dois géneros, mas antes um corpo de músicos, de música clássica e eletrónica, a trabalhar para um som comum”, explicou o norte-americano, de 53 anos.

A 12 de junho, Mills vai apresentar a peça no Barbican, em Londres, acompanhado pela Britten Sinfonia, no âmbito de uma residência naquela sala da capital inglesa, e tem previsto “uma sessão de escuta” do disco na Casa da Música para os membros da Orquestra Sinfónica do Porto.

“Quero trazer ‘Planets’ de volta à orquestra porque lhes pertence e pertence à Casa da Música, e gostava muito de o poder tocar pelo menos uma vez por ano. Não sei se a ideia já foi pensada mas é o que gostaria de fazer”, atirou o compositor.

Depois do novo disco, para o qual já tem um plano de criar uma nova versão “mais 'underground', mais direcionada para a dança”, Jeff Mills pretende dedicar-se à criação de música “para gerações de outra era, para o futuro”.

“A tecnologia está a ajudar a levar a música a mais sítios de forma mais livre, por isso tenho interesse em criar um projeto que se revele a uma geração que exista daqui a décadas ou mesmo séculos no futuro”, referiu Mills, que identificou “Planets” como um exemplo desse objetivo, a par da próxima composição clássica em que está a trabalhar, “Lost In Space”, sobre “o que se pode encontrar quando se está perdido no espaço”.