Cobain morreu aos 27 anos, quando os Nirvana estavam no auge da fama, com hits como "Smells Like Teen Spirit" e "Come as You Are", clássicos que inspiraram várias bandas a seguir o movimento grunge.

O vocalista conquistou tudo em poucos anos: das ruas sombrias de Aberdeen até à fortuna e fama internacional, com direito a uma casa luxuosa no bairro Denny-Blaine de Seattle. Foi nesta casa que o seu corpo foi encontrado no dia 8 de abril de 1994. Cobain deu um tiro na cabeça. Os médicos legistas detetaram uma grande quantidade de heroína no corpo e estimaram que a morte deve ter ocorrido no dia 5 de abril.

Cobain entrou então para o chamado "Clube dos 27", o grupo de músicos que morreu aos 27 anos vítima do uso abusivo de drogas ou álcool e que inclui Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones e, mais recentemente, Amy Winehouse.

Ainda mais famoso após a morte

Como aconteceu com os outros músicos, a morte, ironicamente, elevou ainda mais o status de celebridade de Cobain. "É como com James Dean: ele era um ator reconhecido e morreu num acidente que o transformou num ícone", afirma Gillian Gaar, jornalista de Seattle e autora de "Entertain Us: the Rise of Nirvana."

Gaar compara Cobain a artistas como Neil Young, Carlos Santana e Bob Dylan - todos tiveram uma grande fama no início, mas depois conseguiram reconquistar o sucesso mais tarde. "A grande tragédia da morte de Cobain é o sentimento de potencial não realizado", completa.

Cobain criou os Nirvana em 1987 com o baixista Krist Novoselic, ainda na escola em Aberdeen. O baterista Dave Grohl entrou para a banda mais tarde, depois de vários músicos terem passarado pelo grupo.

A história dos Nirvana e da música começou a mudar quando o grupo foi contratado pela Sub Pop em 1988. Mas a banda despertou pouca atenção quando a editora organizou uma atuação no Central Saloon de Seattle a 10 de abril de 1988.

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"Não ficámos muito impressionados. O concerto não foi muito bom, as músicas não eram muito boas", afirmou o cofundador da Sup Pop Bruce Pavitt à AFP. "Mas Kurt Cobain tinha uma voz incrível e então apostámos no facto de que Kurt tinha uma voz incrível".

O grupo lançou o primeiro álbum, "Bleach", pela Sub Pop em 1989. Mas foi com "Nevermind", de 1991, lançado pela Geffen Records, que conquistou o mundo. O terceiro álbum, "In Utero", de 1993, também foi aclamado.

"Foi um dos últimos a ter feito algo novo", considera o jornalista e músico francês Stan Cuesta, autor do livro "Nirvana, une fin de siècle américaine" ("Nirvana, o fim do século americano"), reimpresso esta semana numa versão atualizada.

"Continua a ser o artista musical mais importante das últimas duas décadas, apesar de o ser apenas por este disco", afirma por sua vez Charles R. Cross, autor de três livros sobre o artista.

De acordo com o jornalista americano, "a maneira como Cobain escrevia as suas canções tornou-se um modelo. Ele mostrou que poderíamos expressar emoções dolorosas, a raiva, falar sobre sua depressão ou até mesmo coisas horríveis como estupro. O impacto continua a ser enorme entre muitos artistas".

O sucesso dos Nirvana foi acompanhado por mudanças na vida pessoal de Cobain - casou com Courtney Love em 1992 e os dois tiveram uma filha, Frances, em agosto do mesmo ano.

Mas a pressão da fama claramente incomodava o cantor e compositor, que lutava contra a depressão. Uma overdose em março de 1994 em Roma foi descrita por Love como a primeira tentativa de suicídio.

Perda e luto

Quando a morte foi anunciada, a notícia provocou uma onda de choque em Seattle e no mundo da música. "A cidade inteira ficou de luto", disse Pavitt. "Mas como ele havia tentado cometer suicídio em Roma um mês antes, não fiquei tão surpreendido", completou.

O banco no parque é o que a cidade tem de mais parecido com um memorial ao líder do grupo. "Apesar de a imprensa estar orgulhosa, e da indústria da música estar orgulhosa, ainda sinto alguma ambivalência nas autoridades da cidade", disse Gaar.

Em Aberdeen - onde existe uma estátua de Cobain no museu da cidade e um parque inspirado no artista perto de uma ponte na qual compôs algumas das suas músicas mais famosas -, o mayor demonstra ceticismo com a reação de Seattle.

"Ele não era de Seattle. É incrível para mim. Ele era de Aberdeen, ficou famoso e Seattle adotou-o", recorda Bill Simpson. "E então matou-se, ou foi morto por causa das drogas e das armas e tudo mais, e de repente Seattle diz 'Oh não, ele era de Aberdeen'", completa.

"Acredito que alguém o matou", afirma. Para Simpson, Cobain teria muita dificuldade de atirar na própria cabeça. Mas Gaar, sentada no banco perto da última casa de Cobain, rejeita a ideia. "Nunca tive qualquer dúvida de que foi um suicídio".

Nas canções de outros

Numa entrevista à revista britânica New Musical Express, Lana Del Rey afirmou em 2011 que Cobain era "a sua primeira inspiração para não ceder aos compromissos da minha música e dos meus textos", a prova de que a sua herança está entre os artistas contemporâneos de diferentes estilos musicais.

Ainda mais surpreendente, o hip hop voltou às canções dos Nirvana nos últimos anos. O rapper Jay-Z chegou a versionar a letra de "Smells Like Teen Spirit" na sua canção "Holy Graal" em 2013.

"É algo relativamente recente", afirma Charles R. Cross. "No início dos anos 1990 isso não acontecia, e, atualmente, mais de 50 artistas estão listados no site whosampled.com por ter aproveitado o repertório do grupo".

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