Leonard Cohen, o artista da voz grave e soturna considerado um dos maiores escritores de canções da segunda metade do século XX, morreu na quinta-feira aos 82 anos.

O anúncio foi feito na sua página oficial do Facebook.

“É com profunda pena que noticiamos que o lendário poeta, compositor e artista Leonard Cohen morreu. Perdemos um dos mais visionários mais prolíficos e reverenciados da música".

Apenas a 21 de outubro tinha sido lançado o seu 14º álbum, "You Want It Darker" , descrito pela editora discográfica Sony Columbia Records como uma "uma obra-prima” e “o último capítulo da grande contribuição de Leonard para a música contemporânea”, acrescentou a Sony Columbia.

Pouco antes, em entrevista ao The New York Times, confessara que ainda tinha canções inacabadas.

"Não sei se as irei conseguir terminar. Talvez, quem sabe? Talvez consiga um segundo fôlego", disse o músico, acrescentando que  não vai perder tempo com "qualquer tipo de estratégia espiritual".

"Tenho trabalho a fazer. Estou pronto para morrer, espero que não seja desconfortável", desabafou então ao jornal norte-americano.

Nascido em Montreal a 21 de setembro de 1934, Leonard Cohen foi o autor de músicas que versam sobre amor, espiritualidade, religião, numa toada de melancolia, cinismo e provocação. Mas ainda antes de ser conhecido como escritor de canções, Leonard Cohen tinha já ambições literárias.

"Let us Compare Mythologies", o primeiro livro de poesia, foi publicado em 1956, seguindo-se em 1963 o romance "O Jogo Favorito", editado em Portugal em 2010, e o de poesia "Flowers for Hitler" (1964).

Em Portugal estão também publicados "Filhos da Neve" e "O Livro do Desejo", que reúne poemas dispersos escritos ao longo dos últimos vinte anos, alguns dos quais durante um retiro budista de Cohen nos Estados Unidos e na Índia.

Alguns dos poemas desse livro foram adaptados para letras de canções, o que significava que para Cohen a composição musical e a literária se alimentam mutuamente.

Leonard Cohen publicou o seu primeiro álbum aos 33 anos, “Songs of Leonard Cohen” (1967), que inclui os temas "So long, Marianne" e "Sisters of Mercy", um dos mais importantes da sua discografia, a par de "Songs of Love and Hate" (1971), "Various positions" (1984) e "I’m your man" (1988).

Judeu e monge budista, conhecido pelo nome "Jikan" (que significa "silêncio"), Leonard Cohen esteve 15 anos ausente dos palcos, tendo voltado a atuar em 2008, no âmbito de uma digressão internacional, por uma razão pouco espiritual: descobriu que o seu agente lhe tinha roubado grande parte das poupanças. Passou várias vezes pelo nosso país.

Em 2011, foi distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias das Letras, de Espanha, pelo "imaginário sentimental" da sua escrita e da música.

Questionado se uma canção pode oferecer soluções para problemas políticos, Leonard Cohen respondeu: "Penso que a canção é, ela mesma, uma espécie de solução".