Joaquim Sequeira, 57 anos, vai todos os dias àquele jardim para saber se está tudo em ordem na pequena biblioteca livre, que construiu em novembro e onde coloca livros para serem lidos por quem passa.

“Basicamente, é uma caixa de madeira cheia de livros que está aberta 24 horas por dia; qualquer pessoa pode abrir a porta e escolher um livro para ler. Não há registos nem prazos de leitura e eu nem quero saber quem e como levou o livro. É só levar”, contou Joaquim Sequeira, o curador desta pequenina biblioteca, em entrevista à agência Lusa.

A tal caixa de madeira, com um pequeno telhado e duas portas de vidro, alberga livros para várias idades, replicando em Lisboa um projeto que surgiu nos Estados Unidos, em 2009, intitulado “Little Free Library” (pequena biblioteca livre).

Em todo mundo já existem cerca de 36.000 bibliotecas como esta, oficialmente registadas e mapeadas na Internet. Em Portugal, estão referenciadas três: em Angra do Heroísmo, no Porto e em Lisboa, criada por Joaquim Sequeira.

A “Little Free Library” acaba por ser “um movimento internacional que tenta promover a literacia e o convívio na comunidade". "Não separa as duas coisas. Promove [o contacto entre as pessoas], através da gratuitidade dos livros”, explicou.

Desde novembro, Joaquim Sequeira já colocou naquela biblioteca cerca de 800 livros, grande parte dos quais escolhidos da biblioteca pessoal.

A ideia é que as pessoas leiam e devolvam o livro, mas Joaquim Sequeira desconhece o que aconteceu à maioria dos títulos. Quer acreditar que as pessoas efetivamente os leram, os ofereceram ou simplesmente ficaram com eles.

“É uma experiência humana muito interessante. Passam aqui pessoas a correr, cansadas, com a cabeça noutro sítio e nem olham para a estrutura. Converso, explico e as pessoas geralmente acham graça”, descreveu.

Dentro da biblioteca, onde hoje se podiam encontrar obras de Eça de Queirós, Alice Vieira, John Grisham e Amin Maalouf, está também um caderno, onde as pessoas deixam mensagens, recados e pedidos de livros.

O que leva uma pessoa a construir um projeto destes, a título individual, em nome do prazer da leitura?

Joaquim Sequeira, que mora perto daquele jardim, responde a rir: “Eu sou médico, que é uma coisa que não tem nada a ver com livros. Isto é um ‘hobby’ louco, no bom sentido. Às vezes sinto-me como D. Quixote. O meu filho pergunta-me o que é que eu aqui faço. É uma pergunta válida, mas julgo que não tem resposta”.

Para ele, a pequena biblioteca das Conchas é só uma extensão de um serviço à comunidade, tal como há trinta anos fez como médico pediatra voluntário, nomeadamente nos Médicos Sem Fronteiras e na Assistência Médica Internacional.

Hoje, por causa de um problema de audição, Joaquim Sequeira já só trabalha um par de horas no hospital da Estefânia e põe em prática essa vontade de contacto humano através dos livros.

“Talvez as pessoas não imaginem, mas dar um livro e ver alguém satisfeito por se ter um livro é uma coisa que nos derrete, e contra isso não há argumentos”, disse.

No sábado, Dia Mundial do Livro, Joaquim Sequeira não planeia fazer nada de especial, mas o mais certo é encontrarem-no sentado a ler, junto à pequena biblioteca.

“Como é que se agarra uma pessoa a gostar de um livro? Sem ser imposto. Não se mudam hábitos. É um trabalho a longo prazo”, disse.

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