A atriz francesa Judith Godrèche acusou o realizador Jacques Doillon de abusar sexualmente dela quando tinha 15 anos.

Esta é a segunda acusação que faz depois de alegar que outro realizador a violou quando era menor.

Atriz francesa Judith Godrèche apresenta queixa por violação contra realizador
Atriz francesa Judith Godrèche apresenta queixa por violação contra realizador
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Os procuradores franceses abriram uma investigação esta semana após Godrèche, agora com 51 anos, acusar o cineasta Benoit Jacquot de a violar durante um relacionamento de seis anos que começou quando ela tinha 14 anos e ele era 25 anos mais velho.

Jacques Doillon é o realizador de "Ponette" (1996), um dos mais aclamados e populares filmes da sua década,  e de "La drôlesse" (1979), "A Pirata" (1984), "O Pequeno Criminoso" (1990), "Le jeune Werther" (1993) e, mais recentemente, "O Casamento a Três" (2010) e "Rodin" (2017).

"Ponette"

Godrèche acusa o realizador de se ter aproveitado enquanto a dirigia aos 15 anos num dos seus filmes, revelou esta quinta-feira. Ele era 29 anos mais velho.

Nem Doillon, de 79 anos, nem Jacquot, de 77, responderam a um pedido de reação da France-Presse (AFP).

Jacquot rejeitou firmemente as acusações que lhe foram feitas ao jornal Le Monde.

No filme de Doillon de 1989, "La fille de 15 ans" ("A Rapariga de Quinze Anos"), Godrèche interpretou uma adolescente cujo pai do namorado (papel de Melvil Poupaud) se apaixona por ela.

Doillon contratou um ator para interpretar o pai, mas no início das filmagens "demitiu-o e tomou o seu lugar", explicou a atriz à rádio France Inter.

“De repente, ele decide que haverá uma cena de amor, uma cena de sexo entre ele e eu”, contou.

“E fazemos 45 vezes. Tiro o meu soutien, estou com o peito nu, ele está a acariciar-me e a dar um beijo francês", detalhou.

Questionada pela France Inter se foi abusada pelo realizador, ela concordou.

Judith Godrèche e Jacques Doillon em "A Rapariga de Quinze Anos"

Na época, Doillon estava num relacionamento com a atriz e cantora britânica Jane Birkin, após ela ter deixado o cantor Serge Gainsbourg, e estava no set como assistente.

“O que aconteceu na casa de Jane, no escritório de Doillon, ninguém viu e não contei a ninguém”, disse Godrèche, sem dar mais detalhes.

“Mas no set, aquilo foi inacreditável”, contou sobre a cena de sexo e o facto de que nenhum adulto presente a defendeu.

“Jane está atrás do monitor e é uma situação extremamente dolorosa para ela”, acrescentou.

Birkin, que morreu no ano passado, mencionou o incidente no seu livro de memórias de 2019, “Post-Scriptum”.

“Ele beijava Judith Godrèche 20 vezes seguidas, perguntando-me qual era a melhor tomada. Uma verdadeira agonia”, escreveu.

A advogada de Godrèche, Laure Heinich, disse que o atriz apresentou uma queixa contra os dois realizadores esta semana.

Uma fonte próxima do caso disse à AFP que a investigação aberta na quarta-feira para examinar a sua queixa contra Jacquot também investigaria as suas acusações contra Doillon.

O cinema francês foi abalado por alegações de que ignorou o sexismo e o abuso sexual durante décadas, e por críticas de que as artes há muito tempo fornecem cobertura para abusos.

Imagens recém-lançadas da estrela Gérard Depardieu fazendo comentários obscenos geraram alvoroço em dezembro.

O debate intensificou-se após o presidente Emmanuel Macron dizer que o ator se tornara alvo de uma “caça humana”.