O investigador peruano Eric Frattini defende no livro “Hitler Morreu no Bunker?” que o “suposto suicídio” do líder nazi e da mulher, Eva Braun, a 30 de abril de 1945, é um mito que a História tem sido incapaz de esclarecer.

“Não existem provas forenses, nem documentais, de que Hitler e Eva Braun tivessem morrido no bunker no último dia do mês de abril de 1945. O famoso fragmento do crânio de Hitler e do seu maxilar inferior esquerdo, que se encontravam armazenados pelo KGB, em Moscovo, acabaram por se revelar como pertencendo a uma mulher com pouco mais de 40 anos, depois de ter sido realizado um teste de ADN, numa universidade norte-americana”, escreve Eric Frattini no livro, publicado em Portugal.

O investigador e antigo correspondente no Médio Oriente é autor de livros sobre a história da Máfia, além do trabalho “Mossad -Os Carrascos de Kidon”, sobre os serviços secretos israelitas.

No livro sobre Hitler, o autor explica que foi inspirado pelas palavras de Umberto Eco (1932-2016) sobre as “verdades enciclopédicas” em que o escritor italiano se refere ao “desaparecimento” do ditador nazi.

“Se mantivermos um espírito aberto, temos de estar preparados para rever as nossas opiniões sobre a morte de Hitler sempre que forem descobertos novos documentos. Além disso, o facto de Hitler ter morrido num bunker já foi posto em causa por alguns historiadores”, escreve Umberto Eco no ensaio “Confissões de um jovem escritor” (2011) que motivou Frattini a investigar o desaparecimento do líder da Alemanha nazi, expondo os mitos e as lendas sobre a questão.

O autor refere que “seria uma terrível realidade” que o homem que provocou a morte de milhões de seres humanos pudesse ter fugido da justiça e passado os últimos dias na “calma argentina” a coberto do regime do general Juan Perón (1895-1974).

Por outro lado, Fratini apoia-se em “indícios documentais” que demonstram que tanto os Estados Unidos como a Grã-Bretanha facilitaram a fuga de criminosos de guerra nazis para a América do Sul e que não seria “disparatado” afirmar que qualquer serviço de informação aliado tivesse preferido fechar os olhos perante uma “conhecida” evasão de Hitler.

“Esta operação de maquilhagem teria tido a participação do aclamado historiador e antigo membro dos serviços de informações britânicos Hugh Trevor-Roper, o qual viria a escrever, em 1947, um livro baseado no seu próprio relatório com o título ‘The Last Days of Hitler’”, acusa Frattini.

O investigador e jornalista peruano afirma que “com base nesta história” de Trevor-Roper as potências aliadas aceitaram o debate sem se questionarem e que a versão do suicídio acabou por se difundir pela opinião pública em todo o mundo.

O livro menciona também os especialistas que estudaram a “complexa figura de Hitler” e que apontam para que os nazis tivessem à disposição uma equipa de duplos capazes de imitar movimentos, expressões e até o tom de voz do ditador.

Um dos duplos, Gustav Weller desapareceu no último ano da guerra sendo que alguns investigadores provaram que quando as tropas soviéticas invadiram Berlim, terá sido assassinado com um tiro na cara e atirado para as ruínas da chancelaria do Reich, numa tentativa de confundir os Aliados através da semelhança física com Adolf Hitler.

Frattini cruza o episódio relacionado com o cadáver de Weller com o memorando datado de 04 de setembro de 1944 do adido militar norte-americano em Buenos Aires dirigido a J. Eddgar Hoover, diretor do FBI, em que alerta sobre os possíveis planos de fuga de Hitler, “uma vez terminada a guerra”, para a Argentina.

“A única coisa que este livro pretende é apresentar certas dúvidas aos leitores que os obriguem a considerar que a ‘verdade enciclopédica’ a que se referia Umberto Eco nem sempre é a ‘verdade absoluta’ e, no caso do suposto suicídio de Hitler, pode ser que esta regra absoluta não se cumpra absolutamente”, conclui.

“Hitler Morreu no Bunker?” de Eric Frattini (Bertrand Editora, 310 páginas) incluiu fotografias, mapas e reproduções de documentos dos serviços secretos dos Estados Unidos, Reino Unido, ex-União Soviética e da Argentina.