O ator, argumentista, escritor e encenador, Francisco Nicholson morreu esta terça-feira de manhã, 12 de abril. Internado no hospital Curry Cabral, o ator encontrava-se doente devido a complicações resultantes de um transplante hepático a que fora submetido há uns anos

Francisco Nicholson começou a fazer teatro aos 14 anos, no antigo Liceu Camões, sob direcção do encenador e poeta António Manuel Couto Viana, a convite do qual veio a pertencer ao Grupo da Mocidade, que integrou com, entre outros, Rui Mendes, Morais e Castro, Catarina Avelar e Mário Pereira.

Estudou em Paris, frequentando a Academia Charles Dullin, do Théatre Nacional Populaire, privando com grandes nomes do teatro francês, como Jean Vilar, Georges Wilson, Gerard Philipe.

Apesar da sua primeira casa ter sido o teatro, o ator ficou conhecido através do seu trabalho na televisão. No pequeno ecrã, deu-se a conhecer em "Riso e Ritmo" (1964), programa em que, além de ator e produtor, foi autor. Nicholson dirigiu e produziu também vários programas como, por exemplo, "O Canto Alegre".

Com Thilo Krassman, Nuno Teixeira e Nicolau Breyner, Francisco Nicholson criou a primeira novela portuguesa, "Vila Faia".  "Origens" (1983), "Cinzas" (1992), "Os Lobos" (1998), "Ajuste de Contas"(2000), "Ganância" (2001) e "O Olhar da Serpente" (2002) foram outras das novelas criadas pelo ator, dramaturgo e argumentista.

"Bem-vindos a Beirais" foi o último trabalho do ator em televisão. Na série da RTP1, Francisco Nicholson vestiu a pele de Henrique,  viúvo que deseja vender sua exploração agrícola no campo para viver com a filha e os netos em Lisboa.

Além da televisão e do teatro, Nicholson também se destacou no mundo da música, ao escrever canções para António Calvário, Tony de Matos e Madalena Iglesias, por exemplo.

Em 2014, o ator editou o seu primeiro romance, “Os Mortos não Dão Autógrafos”, livro que dedicou à mulher, a bailarina e atriz Magda Cardoso.

As reações à morte

A direção da Casa do Artista lamentou a morte do ator Francisco Nicholson, considerando que além de um grande homem do teatro, da televisão e das novelas era "um grande ser humano e um enorme lutador".

Em declarações à agência Lusa, a assessora da direção da Casa do Artista lembrou que Francisco Nicholson foi um "dos fundadores" da instituição, juntamente com Armando Cortez, Manuela Maria, Raul Solnado.

Consternado pela morte do amigo "de há muitos anos", Conceição Carvalho lembrou que Francisco Nicholson foi "um enorme lutador e um homem de causas". "O Francisco era um grande homem de teatro, de telenovelas, de televisão. Era um grande homem de cena", frisou.

O ator e argumentista Tozé Martinho lamentou hoje a morte de Francisco Nicholson, lembrando que este "foi uma pessoa muito importante na história das telenovelas" em Portugal.

"Foi o autor da primeira novela (portuguesa) de grande impacto", disse à agência Lusa Tozé Martinho, aludindo à telenovela "Vila Faia", em que Francisco Nicholson, além de autor, desempenhou o papel de polícia, ao lado de atores como Nicolau Breyner, recentemente falecido, Margarida Carpinteiro e Manuela Marle, entre outros.

Tozé Martinho também lamentou a morte de Francisco Nicholson, lembrando que este "foi uma pessoa muito importante na história das telenovelas" em Portugal. O ator e argumentista disse ainda ser "com desgosto e pena" que vê partir Francisco Nicholson, "um grande amigo" e uma pessoa que "prezava muito".

Na sua página do Facebook, Nuno Markl também relembrou o ator. "O massacre continua. Desaparece um homem que fez Revista na época em que a Revista fazia mais sentido que nunca, que experimentou novas maneiras de fazer humor (o duo com Armando Cortez no programa Riso e Ritmo, nos anos 1960, era de uma velocidade e de uma loucura ainda impressionantes) e, nos anos 1980, foi o mítico inspetor Serôdio de Vila Faia, polícia que merecia ter tido direito à sua própria série de spin-off", escreveu o humorista na rede social.

O jornalista e escritor Mário Zambujal também recordou o ator.   "Era uma pessoa rara, de uma grande educação, de um talento enorme, com muito sentido de humor e muita graça", disse à Lusa, frisando que Nicholson era um homem "cheio de talento", que fez coisas "muito interessantes também no teatro musical" e que era "muito respeitado" por todos com quem trabalhou.

"Entristece-me muito, o Francisco tinha uma alegria muito natural e expansiva. Era um tipo fascinante", concluiu.

Nas redes sociais, a atriz Sara Barradas também deixou uma mensagem de apoio à família do ator. "Não tenho mais palavras... Como é que se aguenta perder tantas referências em tão pouco tempo!? Se eu com menos anos de convivência sinto tanto, imagino outros que trabalharam ainda mais e partilharam ainda mais contigo! Já para não falar na família... Magda, Sofia Nicholson, um grande beijo nesta hora! Força...", escreveu a atriz.