Em declarações à agência Lusa, na Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito da conferência anual do Conselho Internacional de Museus (ICOM) Europa, que decorre hoje e terça-feira, o especialista sublinhou a necessidade de os museus nacionais "usarem os seus recursos e a criatividade para ajudar o público a enfrentar os problemas da atualidade".

"Há uma perda de esperança e um aumento do medo pelo presente e pelo futuro. O museu não é apenas um lugar bonito para ver peças históricas. É uma instituição central da modernidade, e deve criar exposições que analisem o presente e levantem questões importantes", advogou o coordenador do Eunamus Project (European National Museums / Museus Nacionais Europeus) e professor na Universidade de Linnaeus, na Suécia.

Os argumentos de Peter Aronson baseiam-se no estudo Eunamus, um projeto patrocinado pela Comissão Europeia que analisou museus de 37 países, entre 2010 e 2013.

"National Museums: past, present and future" ("Museus Nacionais: passado, presente e futuro") é o tema geral deste encontro anual do ICOM-Europa, atualmente presidido pelo museológo português Luís Raposo.

Peter Aronson participa hoje no encontro para falar sobre o tema "Museus europeus numa Europa em mudança", uma intervenção que se baseia essencialmente no projeto Eunamus, que procurou determinar como é que um museu nacional se relaciona com o desenvolvimento do seu país.

Questionado pela Lusa sobre os maiores desafios atuais para os museus nacionais, o investigador sublinhou que a estas instituições "cabe a missão de apresentar o conhecimento do passado, os valores e o caminho para o futuro, independentemente de um país ter um Governo de esquerda ou de direita".

"Os museus não podem olhar noutras direções. Têm de agir e enfrentar a realidade atual. Claro que um museu não pode fazer tudo, mas é um ator importante para encontrar um caminho de futuro das sociedades", sustentou.

Para o investigador sueco, "os museus do Mediterrâneo - como Portugal, a Grécia, Espanha e Itália - ainda não lidaram convenientemente com as questões do seu passado, do colonialismo, das ditaduras".

"É urgente que estas questões sejam enfrentadas para que as instituições possam voltar a ter crédito. E não é só para fazer passar a mensagem da tolerância. É para falar nas questões atuais com abertura, nomeadamente os refugiados, os populismos, o regresso dos nacionalismos", acrescentou.

Para o investigador, a Alemanha foi o único país que, através dos seus museus, enfrentou o passado nazi com uma linguagem própria e aprofundada para o público.

"A nossa pesquisa demonstra que estas questões não se podem ignorar, e devem ser abordadas com bom senso junto do público", reiterou.

Na mesma linha, o ex-presidente do ICOM-Europa, Hans-Martin Hinz, falando na conferência sobre "Novos museus nacionais num mundo globalizado", apontou que o surgimento de movimentos nacionalistas e populistas em alguns países, tal como aconteceu no final do século XIX e no início do século XX, está a influenciar também os museus nacionais.

"Os conflitos, as migrações e a globalização levaram a uma perda de fé na democracia. Os museus nacionais são muitas vezes vistos como representantes do Estado ou de uma certa visão de um Governo que se encontra no poder", apontou.

Na opinião de Hans-Martin Hinz, "nos últimos anos, em resultado das crises económicas e das restrições nas políticas sociais, as sociedades mudaram, pelo menos parcialmente, de uma 'modernidade social' para uma 'modernidade regressiva', num processo acompanhado por novas visões, por vezes nacionalistas, das suas próprias nações, e de uma preocupação crescente sobre as instituições europeias".

Chris Whitehead, coordenador do CoHERE Project (Critical Heritages: performing and representing identities in Europe) e professor na Universidade de Newcastle, no Reino Unido, Daniele Jalla, presidente do ICOM Italia, Dominique Poulot, membro da CulturalBase European Platform e professor da Universidade Paris 1, Panthéon-Sorbonne, em França, são alguns dos oradores que vão estar presentes neste encontro.

Tudo o que se passa à frente e atrás das câmaras!

Receba o melhor do SAPO Mag, semanalmente, no seu email.

Os temas quentes do cinema, da TV e da música!

Ative as notificações do SAPO Mag.

O que está a dar na TV, no cinema e na música!

Siga o SAPO nas redes sociais. Use a #SAPOmag nas suas publicações.