Em declarações à Lusa, o músico, de 47 anos, afirmou: “O disco conta uma história de vida e está na base das minhas influências, e das pessoas com quem tenho trabalhado, nos últimos anos, mas não foi fácil escolher, trabalhando com tanta gente diferente ao longo de todo este tempo”.

O músico reconheceu que “seria difícil um disco que espelhasse tudo o que já fez” e referiu-se ao disco, que estreia a etiqueta discográfica Museu do Fado – Discos, como “intuitivo”.

“Foi o que nos apeteceu tocar e conforme fomos tocando, fomos gravando, tocávamos o tema, improvisámos, e depois voltávamos ao tema, foi tudo de uma forma muito intuitiva”, contou, referindo “ter sido muito importante o companheirismo de anos de palco com os músicos, que permitiu uma cumplicidade que foi essencial”.

O “núcleo duro” dos músicos que acompanham José Manuel Neto é formado por Carlos Manuel Proença, na viola, e Daniel Pinto, na viola baixo, mas conta com uma panóplia de participações, designadamente Tiago Machado, autor de “Chorinho do norte”, e do “histórico” viola baixo Joel Pina, de 96 anos, em dois temas, “Despertar”, de Jaime Santos, e “Variações em Lá", de Armandinho.

De Armando Freire, conhecido como Armandinho, o músico interpreta um tema que intitulou “Armandinhos” que, com arranjos seus, junta os fados Ciganita e Alexandrino, daquele compositor.

O álbum“Tons de Lisboa” resgata uma gravação de Deolinda Maria, mãe do guitarrista, que afirmou ser “a ‘culpada’ de tudo isto”, mas garantiu não estar arrependido. “Se não fosse ela eu não teria começado aos 13 anos a tocar”, tendo-se profissionalizado aos 17.

De Deolinda Maria, falecida em maio de 2008, o músico incluiu o fado “A carta do adeus”, de Mário Pereira (música e letra), em que a fadista é acompanhada por Francisco Carvalhinho, na guitarra portuguesa, Pais da Silva, na viola, e Liberto Conde, na viola baixo, e, “através das modernas técnicas, também pelo neto, Ricardo Neto, no contrabaixo”.

Ricardo Neto, filho de José Manuel Neto, estuda no Conservatório de Amesterdão, e participa em outros dois temas do álbum, ao lado do pai, nomeadamente em “Chorinho do norte” e “Será”, de Carlos Bica.

Entre as composições inéditas contam-se ainda “Finta”, de Valter Rolo, que abre o disco, e “Valsa Eduardina”, de Eduardo César.

Ricardo Gato, na viola baixo, Vicky Marques, na percussão, e Pedro Jóia, na guitarra clássica, são outros instrumentistas que participam no álbum, que totaliza 11 faixas, entre elas “Variações sobre o Fado Lopes”, de José Cavalheiro, e "Vira de Frielas", de José Nunes.

O disco conta ainda com as participações especiais de Mariza, Aldina Duarte, Camané e Carlos do Carmo, na interpretação do tema “O Neto”, um poema de Manuela de Freitas, na melodia popular tradicional do Fado Mouraria.

Em 1992, José Manuel Neto gravou o seu primeiro disco, "Tears of Lisbon" (Lágrimas de Lisboa), com o Huelgas Ensemble, sob a direção do maestro Paul Van Nevel, com os fadistas Beatriz da Conceição e António Rocha.

José Manuel Neto, distinguido com o Prémio Francisco Carvalhinho, pela Casa da Imprensa, em 2004, e o Prémio Amália Melhor Instrumentista, em 2008, “é um excelente intérprete, brilhante, um virtuoso, que reúne grande consensualidade no mundo do fado”, realçou à Lusa, por seu turno a diretora do Museu do Fado, Sara Pereira.