O livro tem edição prevista em Portugal para o mês de outubro, pela D. Quixote.

De acordo com as agências internacionais, o livro debruça-se sobre uma operação que ocorreu numa das obras anteriores de Le Carré, "O Espião que Saiu do Frio", na qual George Smiley se destacou pela primeira vez, no início da década de 1960. A operação narrada no livro de 1963 é marcada pela morte de um agente e de uma mulher que tentam rumar ao Ocidente.

Segundo uma breve sinopse de "Um Legado de Espiões", disponível na editora Penguin Random House, este conta a história de como Peter Guillam, antigo colega e discípulo de Smiley nos serviços secretos britânicos, "se encontra a viver numa quinta da família, no sul da Bretanha, até que recebe uma carta da agência secreta da qual se aposentou, pedindo-lhe para vir até Londres”.

Em virtude do seu passado, aquando da época da Guerra Fria, Smiley e Guillam, que deveriam ser felicitados pelas suas missões passadas, irão ser interrogados por uma "geração sem memória ou paciência para as justificações [dos espiões] que participaram na Guerra Fria".

A editora internacional afirma que a obra "alterna entre o passado e o presente [de uma] história intensa" que envolve "tensão, humor e ambivalência moral", em que Le Carré escolhe o fictício Guillam para narrar e apresentar o "legado de personagens inesquecíveis, antigas e novas".

Numa conferência transmitida, na quinta-feira, ao vivo em mais de 200 cinemas por todo o Reino Unido, o autor que completará 86 anos em outubro admite que "não se pode criar uma pessoa sem incluir um pouco de si mesmo [na personagem, mas que] Smiley será sempre um pouco mais velho e mais sábio" do que ele, explicou no evento para benefício da organização Médicos Sem Fronteiras.

Esta manhã, na BBC, Le Carré falou também no estado do panorama político mundial, confessando que "é difícil escrever quando se abomina o Brexit e Trump", numa altura em que "a Europa se vê entre dois incêndios", algo "muito difícil de engolir para Smiley".

O próprio autor, cujo nome verdadeiro é David Cornwell, trabalhou para os serviços secretos britânicos de 1950 a 1964, dedicando-se depois à escrita a tempo inteiro, após o sucesso de "O Espião que Saiu do Frio", sendo que recupera alguns episódios da sua vida pessoal nas múltiplas obras que escreveu, frequentemente.

Le Carré e Smiley partilham alguns traços de caráter, uma vez que ambos têm "dificuldade em recordar momentos felizes, algo que não vem naturalmente", realçou à publicação The Times. O escritor descreve Smiley com o anti-James Bond, pois este reflete a vida de um espião mais próxima da realidade: em vez que ser "um símbolo sexual" a personagem agora de regresso vive "constantemente preocupada".

As narrativas idealizadas pelo autor já foram sujeitas a seis adaptações, no grande e no pequeno ecrã, sendo que se salientam "A Toupeira" (obra de 1974, em versão fílmica em 2010, em que Smiley foi interpretado pelo ator Gary Oldman) e "O Gerente da Noite", série que passou recentemente nos canais AMC e RTP 2, com os atores Tom Hiddleston e Hugh Laurie nos papéis principais, baseada no livro de 1993.