"A morte do Vicente da Câmara é uma grande perda para o fado. Ele era uma das grandes referências vivas do género, tinha um estilo e uma técnica de canto e uma escolha de repertório muito próprios, inconfundíveis", comentou, em declarações à agência Lusa.

Vicente da Câmara, sobrinho da também fadista Maria Teresa de Noronha, cujo trabalho, segundo Vieira Nery, o influenciou, tornou-se conhecido, entre outros êxitos, pelo fado “A moda das tranças pretas”.

Entre outros prémios, Vicente da Câmara foi distinguido em 2013 com o Prémio Amália Rodrigues Carreira e tinha um percurso artístico com mais de 60 anos, que iniciou na extinta Emissora Nacional.

Vicente da Câmara "tinha um gosto muito grande pelo repertório clássico do fado, aqueles fados estróficos castiços, que entretanto foram passando um pouco de moda, e que ele continuou a cultivar com uma galhardia e com uma graça muito grande", recordou Rui Vieira Nery, diretor do Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas.

Ao longo da carreira, "continuou com uma atitude muito coerente consigo próprio, a cantar um repertório que sabia que o público gostava muito, e reagia com muito entusiasmo”, disse Vieira Nery, acrescentando que “foi um exemplo para os fadistas mais novos”.

Para o musicólogo, um dos segredos da popularidade do fadista foi a "grande capacidade de comunicação que ele tinha, e emanava, ao mesmo tempo, uma simpatia pessoal muito grande".

Do seu repertório constam ainda temas como "Sino", de sua autoria, "As cordas de uma guitarra" ou "Outono", com letra de seu pai, "Triste mar", "Maldição" e "Menina de uma só trança".

O seu percurso inclui outros fados como "Fado Lopes", "Era mais que simpatia", "Milagre de Santo António", "Fado do Pão-de-Ló", ou "Fado do João", "Guitarra soluçante", "O fado antigo é meu amigo" e "Há saudades toda a vida".

Em 1964 estreou-se no cinema, em "A última pega", de Constantino Esteves, protagonizado por Fernando Farinha, no apogeu da carreira, e contracenando com Leónia Mendes, Júlia Buisel e José Ganhão.

Voltou ao cinema em 2007, sob a direção de Carlos Saura, em "Fados", e ao lado de Carminho, Ricardo Ribeiro, Mariza, Camané e Carlos do Carmo, entre outros.

O fadista, um dos fundadores da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), integrou o elenco do espetáculo de inauguração do Museu do Fado, em 1998. Atuou na Alemanha, Luxemburgo, França, Espanha, Países Baixos, Canadá, África do Sul, Macau, Hong Kong, Coreia do Sul, Malásia, Brasil, Moçambique e Angola.

Em 1993, gravou com José da Câmara e Nuno da Câmara Pereira o disco "Tradição" (EMI/VC), em homenagem à tia Maria Teresa de Noronha.

"O rio que nos viu nascer" (2006) é o mais recente álbum de Vicente da Câmara (Ovação).

O velório do fadista, que nasceu em Lisboa, no seio de uma família aristocrática, está a decorrer desde as 16:00, na Igreja da Graça, onde será celebrada missa, disse à Lusa fonte da família.

O funeral sai no domingo às 15:30 da Igreja da Graça em direção ao cemitério dos Prazeres, em Lisboa.