O presidente da Câmara do Porto anunciou ao final da tarde desta sexta-feira que a coleção de obras de Joan Miró provenientes do antigo Banco Português de Negócios (BPN) vai permanecer na Casa de Serralves, sendo o modelo institucional anunciado "dentro de dias".

“Depois de uma prudente ponderação, entendi que esta coleção notável, coerente e indissolúvel, agora sob a tutela da Câmara Municipal do Porto, não poderia, de momento, ficar em melhor lugar do que aqui na Casa de Serralves. Com a pronta concordância da Fundação, posso agora revelar que este novo polo cultural do município ficará instalado nesta casa maravilhosa e queria também dizer que o senhor arquiteto Siza Vieira já aceitou o encargo de transformar esta casa de tal forma a que a coleção possa ficar aqui de forma permanente”, declarou o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, depois da inauguração da exposição “Joan Miró: Materialidade e Metamorfose” que contou a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Mariano Rajoy e do ministro da cultura Luís Filipe Castro Mendes.

Por seu lado, a presidente da Fundação de Serralves, Ana Pinho, declarou que a decisão não foi tomada “antes de o assunto ser abordado e também recolher a opinião da diretora do museu de Serralves”, pelo que “a todos pareceu que era uma boa decisão”.

Passados quase três anos do anúncio da venda num leilão internacional, 80 das 85 obras da chamada coleção Joan Miró (1893-1983), proveniente do ex-Banco Português de Negócios, estão expostas publicamente pela primeira vez.

A mostra abarca um período de seis décadas da carreira do artista catalão - de 1924 a 1981 - e debruça-se em particular sobre a transformação das linguagens pictóricas que o artista catalão trabalhou, abordando também as suas metamorfoses artísticas nos campos do desenho, pintura, colagem e trabalhos em tapeçaria.

No conjunto da mostra - com desenho arquitetónico de Álvaro Siza Vieira - estão incluídas seis pinturas sobre masonite de 1936 e também seis sobreteixims (tapeçarias) de 1973.

Exposição "Joan Miró: Materialidade e Metamorfose” abriu esta sexta-feira

A exposição “Joan Miró: Materialidade e Metamorfose”, que abriu esta sexta-feira em Serralves, apesar de mostrar quase 80 trabalhos de um dos maiores artistas do século XX é, nas palavras da diretora do museu, “apenas uma exposição”.

Durante a visita para a imprensa da exposição que pela primeira vez apresenta as obras do pintor catalão que pertenciam ao antigo Banco Português de Negócios (BPN), a diretora do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Suzanne Cotter, afirmou que a exposição “significa imenso em diferentes níveis de herança artística e em termos do lugar da arte na sociedade”, mas que para além da discussão política e pública em torno dela, “é apenas uma exposição”.

“Por apenas uma exposição quero dizer que é uma mostra que espero que vos possamos encorajar a vocês, a todos os vossos leitores e espectadores a visitar e apreciar o brilhantismo” de Miró, declarou Cotter.

A diretora artística do museu realçou à Lusa ser “imensamente relevante” para Serralves acolher a estreia ao público desta coleção, que significa “tanto para o povo português”.

Comissariada por Robert Lubar Messeri, com projeto de Álvaro Siza Vieira, a exposição reúne a quase totalidade das obras da coleção de Miró na posse do Estado provenientes do BPN e percorre o rés-do-chão e o primeiro andar da Casa de Serralves até dia 28 de janeiro, estando ainda por definir o local onde a coleção vai estar a partir desse momento, sabendo-se apenas que será no Porto.

Entretanto, a Câmara Municipal do Porto anunciou que vai ter lugar, às 20:30, uma conferência de imprensa por parte do presidente da autarquia, Rui Moreira, com a presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, Ana Pinho, sobre a coleção Miró, momentos depois da inauguração, que vai contar com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro, António Costa, e do presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy.

O arquiteto Siza Vieira lembrou à Lusa que já tinha preparado o espaço para uma exposição fotográfica antes, mas com os mesmos problemas: “Não se podem pendurar quadros nas paredes, não se podem ter projetores no teto. Era como resolver a luz e como expor os quadros. E isso fiz, tal como noutra exposição, com a intenção de que se sentisse o espaço, a casa, que é uma casa maravilhosa e que tem muita qualidade para organizar uma exposição”.

“Casa boa, luz boa, obra maravilhosa, não se pode querer melhor”, sintetizou Siza.

Da parte do mecenas, a Fundação La Caixa, Ignacio Miró (sem relação com o artista) disse à Lusa que a presença da instituição como mecenas é feita “mais por via da Fundação de Serralves do que pelas obras de Joan Miró", mas reconheceu tratar-se de "uma magnífica coincidência”.

Questionado sobre se a fundação pode vir a apoiar uma eventual interação entre os vários polos daquilo que Robert Lubar disse à Lusa em julho tratar-se de um “triângulo cultural na Península Ibérica” entre Porto, Barcelona e Palma de Maiorca, Ignacio Miró explicou que o tempo o dirá, mas saudou que a coleção do antigo BPN regresse agora “ao circuito de obras de Miró disponíveis para projetos de âmbito internacional”.

A coleção em causa, proveniente do antigo Banco Português de Negócios (BPN), “inclui um total de 85 obras de Miró, do ano de 1924 até 1981”, nas quais se encontram “desenhos e outras obras sobre papel, pinturas (com suportes distintos)”, além de seis tapeçarias de 1973, uma escultura, colagens, uma obra da série “Telas queimadas” e várias pinturas murais.