O concerto de estreia desta composição de Sérgio Azevedo, em que é solista o clarinetista Nuno Silva, faz parte da programação do 27.º Festival Internacional de Música do Algarve, que termina no próximo domingo, em Albufeira.

Num texto, divulgado pela OML, o compositor, de 48 anos, natural de Coimbra, afirma que “os andamentos [da obra] oferecem uma alternância rápido-lento e os dois andamentos lentos são estruturados de forma obsessiva”.

O Concerto para Flauta e Orquestra foi escrito em 2016 e intitulado, em italiano, “Jogos de Pássaros”.

Segundo Sérgio Azevedo, há na peça “uma grande concentração expressiva, uma vez que o material de base é constantemente reiterado no discurso, como que se de uma grande árvore se tratasse (o tema de base), uma árvore que é rodeada por pássaros que esvoaçam à sua volta (as volúveis figurações que rodeiam o tema)”.

“A ideia da flauta como tradutora, pela agilidade e sonoridade aguda, dos pássaros, é antiga”, escreve Azevedo, na apresentação da obra, assegurando que “não quis imitar deliberadamente o canto dos pássaros (exceto na cadência da orquestra no início do 5.º andamento)”.

“Quis antes criar algumas metáforas musicais, como a da árvore antes referida. O movimento de conjunto de bandos de pássaros e da sua ‘dança’ aérea coordenada também me deu algumas ideias, mas, repito, todas elas se traduziram quase sempre em estruturas musicais abstratas e não em imitações deliberadas desses fenómenos”.

Sérgio Azevedo destaca “a cadência orquestral, com que se inicia o 5.º andamento”, que aponta como “um momento excecional”.

“Aí, cada instrumento de sopro das madeiras e algumas cordas solistas se transformam em diferentes pássaros, criando uma textura quase improvisada que precede a cadência para a flauta solo”, afirma.

“O sermão de São Francisco [de Assis] aos pássaros veio-me imediatamente à memória, ao criar essa secção. Também o cântico dos pássaros, reagindo ao início do dia numa grande árvore, à frente da minha casa, contribuiu para essa atmosfera quase mística, e pela mesma razão cito, no início dessa secção, os pássaros do início de ‘Lever du Jour’, do bailado ‘Daphnis et Chloé’ de Ravel”.

A composição é dedicada a Nuno Inácio, 1.º flautista da OML, e também à memória do musicólogo Carlos de Pontes Leça, antigo diretor do Serviço de Música da Fundação Gulbenkian.

O compositor afirma que ao saber da morte de Pontes Leça resolveu “alterar o plano inicial da obra e escrever uma secção dedicada a São Francisco, certo de que Carlos a teria apreciado”.

O programa completa-se com duas peças de Igor Stravinsky, “Danças Concertantes” e a suite do bailado “Pulcinella”.

A escolha do compositor russo não foi um acaso, afirma a OML, em comunicado, “por se tratar de uma (boa) influência assumida pelo compositor português”.

No sábado, a OML apresenta este programa no âmbito da sua Temporada Clássica, no Teatro Thalia, em Lisboa.

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