“Pryings”, “Theme song”, “Remote control”, “Claim excertps”, de Vito Acconci, e “Clown Torture”, de Bruce Nauman, contam-se entre as obras elaboradas pelos artistas contemporâneos, pensadas para serem registadas em vídeo, que o diretor artístico da BoCA – Biennal of Contemporary Arts recontextualiza agora, num espetáculo com finalistas da licenciatura em teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema (Amadora).

“À semelhança do que Acconci e Nauman fizeram [nas décadas de 1970 e 1980], num prenúncio do que, 40 anos mais tarde, iria confluir nas 'selfies' e na exposição do corpo nas redes sociais, dirigindo-se à câmara de vídeo, muitas vezes utilizada como um agente de endereçamento íntimo, os jovens atores utilizam os mesmos textos e ações, para se dirigirem agora ao público, no teatro”, lê-se na programação do Teatro Nacional D. Maria II, onde a peça estará em cena, na sala Estúdio, até domingo.

É, assim, numa relação mista de independência e co-dependência entre artistas/atores e espetadores que “Primeira imagem” reativa formas, habitando-as num contexto de estúdio de criação, que é o próprio palco, e no qual os corpos se tornam um campo de experimentação desse espaço, acrescenta a mesma nota.

“Próximo de um transe, entre as regiões subterrâneas da mente e a própria vontade dos artistas/atores, em 'Primeira Imagem' vemos o esforço que estes fazem para se convencerem e controlarem a si mesmos e ao público”, sublinha a programação do D. Maria II.

Neste espetáculo, os jovens atores acabam por reclamar uma atenção sobre os próprios corpos, que mergulham no mercado da arte, numa exposição de intimidade, que, ora sedutora ora fantasiosa, pretende obter aprovação, credibilidade ou repulsa.

Concebida e encenada por John Romão, a peça tem interpretação de Carolina Lobato, Catarina Moita, Diana Narciso, Duarte Melo, Erica Rodrigues, Gabriel Gomes, Henrique Bispo, Madalena Barreto, Margarida Freitas, Marta Caeiro, Roxana Lugojan e Tiago Gonçalves.

De entrada gratuita – com récitas de quinta a sábado, às 21:30, e, no domingo, às 16:00 -, “Primeira imagem" insere-se no ciclo dedicado ao novíssimo teatro português, e é a quinta e última produção portuguesa a estrear nesta edição do Festival de Almada.

A decorrer até dia 18, o 34.ª Festival de Almada integra apresenta 44 produções de teatro, dança e música, das quais 27 são espetáculos de sala e, destes, 13 são produções portuguesas.

Espetáculos e animação de rua, concertos, exposições e debates são outras das propostas do Festival.

Organizado pela Companhia de Teatro de Almada (CTA) e dirigido pelo diretor da companhia, Rodrigo Francisco, o certame está orçado em 820.000 euros - 257.000 são investidos pela câmara local, 363.000 resultam de parcerias e de receitas próprias do certame, e 200.000 provêm dos subsídios atribuídos pela Direção-Geral das Artes (metade do financiamento da DGArtes à companhia).

Casa da Cerca/Centro de Arte Contemporânea, Teatro Municipal Joaquim Benite, Teatro-Estúdio António Assunção, Incrível Almadense e Fórum Romeu Correia, em Almada, Teatro Taborda, Teatro Nacional D. Maria II, Centro Cultural de Belém, em Lisboa, são os locais onde decorre o certame.