O romance, que “não é defensivo, mas um livro de amor”, segundo Rita Ferro, é apresentado às 18:00, no Museu Nacional de Soares dos Reis, pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira.

António Ferro foi o criador e o primeiro diretor do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), fundado em 1933, mais tarde SNI (Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo), morreu em 1956, um ano depois de Rita Ferro, sua neta, nascer.

Em declarações à Lusa, Rita Ferro afirmou: “Eu não tenho nenhum sentimento negativo em relação a ele, nenhum. Há um mistério, que é como uma pessoa tão extraordinariamente bondosa como ele era, e isso é consensual à direita e à esquerda, a toda a gente que o conheceu - eu incluo testemunhos -, pode parecer um mistério que, apesar da ditadura, tenha havido o António Ferro”.

A autora argumentou que “as pessoas têm contradições e motivos especialíssimos para serem como são e que são explicáveis para terceiros”.

“Ele glorificava os vencedores e até os fazia, mesmo os artistas mais perigosos e menos funcionais. O mistério é, sem uma hermenêutica de época, como é que um homem bom podia estar ali a alinhar e a ser megafone de um regime que perseguia, torturava e matava. É uma resposta que morreu com ele”.

“Dou apenas pistas para mostrar uma personalidade, para perceber o que o ligou a Salazar, com tamanha devoção”, disse Rita Ferro, acrescentando: “Só na má literatura é que as pessoas são apenas boas e más”.

A autora defendeu que “é um romance aparentemente inocente, no sentido de ser fresco, não é pesado”, mas, como realçou, também “desmistifica algumas coisas que há tanto tempo têm sido ditas, que acabam por ser consideradas verdades e são estudadas nas faculdades e não é bem isso”.

“Fui puxar - e isso é que é mágico na escrita - todas as sensações e perceções que tinha do meu avô e consegui pô-las lá quase todas. O livro é um tijolo, o romance tem umas trezentas páginas, depois de completo com um lote de cartas inéditas, algumas extraordinárias, não da parte amorosa, mas dele para o [então presidente do conselho de ministros, António de Oliveira] Salazar, a questão de Berna, que é um mito”.

Em 1949, António Ferro foi colocado pelo Governo português na legação portuguesa em Berna e, segundo Rita Ferro, esta questão “é um mito, pois acham que Salazar o chutou, e não foi isso - está ali tudo consubstanciado nas cartas”.

Rita Ferro sublinhou que “não é um romance histórico”, apesar de “assentar em factos todos verídicos".

"Não se pode dizer que é um romance histórico, É um romance baseado em frescos da vida privada de António Ferro, que começa quando ele vai revisitar Baleizão, que é a terra dos pais, e depois a maneira de ser na escola, já com aquele sentido de ‘olheiro’ em tudo, de identificar a pérola, que cedo se evidenciou”.

Rita Ferro afirmou que cruzou histórias que sempre ouviu, com pistas que lhe foram parar às mãos, investigação que fez, e ficcionou.

"Talvez seja a que revela melhor a verdade”, rematou.

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