A ideia partiu da Acesso Cultura, uma associação sem fins lucrativos, constituída por pessoas ligadas à área da cultura e com interesse nas questões de acessibilidade, que, desde o início deste ano, apostou na criação de sessões de teatro abertas a todas as crianças e jovens, mas em especial às que têm necessidades especiais.

Em declarações à agência Lusa, a diretora executiva da Acesso Cultura, Maria Vlachou, explicou que “a inspiração veio do estrangeiro”, do que se fazia em teatros do Reino Unido, Estados Unidos ou Austrália, e da vontade de fazer o mesmo em Portugal, tendo contactado os teatros São Luiz, D. Maria e Maria Matos, todos em Lisboa.

“Às vezes existem códigos de comportamento nas salas de espetáculo que não se adequam às necessidades e especificidades de todas as pessoas”, adiantou Maria Vlachou, o que faz com que, muitas vezes, estas pessoas e as suas famílias acabem por não ir.

Já numa sessão descontraída, os espetadores podem sair da sala durante o espetáculo, por exemplo, voltar a entrar quando quiserem, interagir com os atores ou até expressar o seu agrado.

“O grande objetivo é que pessoas com autismo, famílias com crianças mais pequenas, pessoas com défice de atenção, talvez deficiência intelectual possam estar à vontade com os seus familiares e amigos num espetáculo sem se sentirem constrangidas”, explicou, acrescentando que é uma forma de estas pessoas se sentirem mais bem-vindas.

Experiência pela qual passou Helena Sabino, 38 anos, mãe de uma criança de dez anos, que sofre de autismo, associado a hiperatividade com défice de atenção, que, em abril, foi à primeira sessão descontraída, organizada no Teatro São Luiz.

“Foi muito bom, porque o João andou descontraído, viu fumo ficou muito entusiasmado, tentou tocar, interagiu com os próprios atores que estavam em palco, levantou-se, sentou-se quando quis. Não nos sentimos observados, não nos sentimos criticados”, adiantou.

Em dez anos, Helena só por uma vez tentou levar o filho ao cinema, mas a experiência acabou mal, tanto para o filho, como para ela.

“O som estava muito alto e em termos sensoriais e auditivos ele acaba por ter alguma sensibilidade, depois estava tudo muito escuro, a projeção das imagens também provocou agitação nele e ele começou a tapar os ouvidos, começou a gritar, atirou-se para o chão, as pessoas começaram a reclamar”, contou.

Ao contrário desta experiência, na sessão descontraída de abril, o João já reagiu de outra forma e conseguiu ter a sua primeira experiência de teatro.

“O João é uma criança que não é verbal, ele não me conseguiu transmitir por palavras aquilo que sentiu, ou como apreendeu a peça, mas eu, conhecendo o meu filho como conheço, sei que ele gostou, sentiu-se feliz e de alguma forma sentiu-se incluído numa coisa que normalmente não o é”, adiantou Helena, que espera agora que haja mais destas sessões.

Depois da sessão de abril, seguiu-se uma no Teatro São Luiz e outra no Teatro Nacional D. Maria, ambas em outubro.

A próxima realiza-se hoje, no Teatro Maria Matos, onde Susana Branco e Ana Lúcia Palminha interpretam duas raparigas que evocam memórias das festas tradicionais portuguesas.

“Vai haver de certeza uma escuta e um namoro muito grande entre nós e eles porque é escutá-los, é estar aberto para o que pode acontecer e é dialogar com isso e daí isto ser uma sessão aberta e descontraída”, acredita Ana Lúcia Palminha.

A programadora do Teatro Maria Matos, Susana Menezes, deixou a garantia de que estão todos prontos e preparados para “esta nova etapa”, revelando que, no futuro, estas sessões serão mais regulares e que há já duas agendadas para o próximo ano, em fevereiro e abril.

Segundo Maria Vlachou, estão já a decorrer reuniões com outros parceiros para levar as sessões descontraídas a outros pontos do país, nomeadamente Porto, Braga, Viseu e Guimarães.

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