A estreia de três peças, leituras encenadas, uma oficina de escrita e um colóquio em torno da construção da nova sede marcam a programação da companhia das Caldas da Rainha que, em 2017, aposta nas cumplicidades, que se materializam igualmente no projeto Sound’art: Contos contados com som", que envolverá compositores como Miguel Azguime e fotógrafos como Valter Vinagre e o Prémio Pessoa José Manuel Rodrigues.

Num ano em que, segundo o encenador Fernando Mora Ramos, diretor artístico do Teatro da Rainha, “a estratégia é marcada por cumplicidades e vínculos” com outras companhias, encenadores e autores, a temporada arranca com “Europa 39”, três ensaios inacabados de Bertolt Brecht, com estreia marcada para 16 de fevereiro.

A peça é encenada por Luis Varela e por ele definida como “um cabaré político apalhaçado, que chama a atenção para esta espécie de falência anunciada de uma Europa da solidariedade”.

Desta "cumplicidade" com o encenador convidado, a companhia das Caldas da Rainha parte para “outras cumplicidades”, nomeadamente com o escritor italiano António Tabucchi, participando, no Faial, Açores, numa homenagem ao autor em que caberá ao Teatro da Rainha a leitura encenada da obra “A Mulher de Porto Pim”.

De acordo com Mora Ramos, este é texto “multiforme”, em que cabem ficções sobre o modo "como surgiram aquelas ilhas", "o código de posturas sobre a caça à baleia ou um texto final em que se imagina a fala das baleias”.

O texto será apresentado em março, privilegiando o “ponto de vista da baleia sobre os humanos”, como adiantou Mora Ramos.

Convidada pela autarquia das Caldas da Rainha a participar nas comemorações do Dia da Cidade, a 15 de maio, a companhia levará então à cena o "Auto de São Martinho e outros fragmentos", combinando o original de Gil Vicente com o compromisso da rainha D. Leonor, para a criação do Hospital Termal.

A peça, apresentada no largo fronteiro ao Hospital Termal, parte da obra escrita por Gil Vicente, a pedido de Dona Leonor, e que foi representada nas Caldas da Rainha, na Igreja do Pópulo, em 1504, e incluirá excertos da carta de princípios - o “compromisso da rainha” -, que a monarca definiu ao criar aquele equipamento.

No segundo semestre, a programação do Teatro da Rainha voltará a temas mais contemporâneos, com "Play House", do britânico Martin Crimp, “uma viagem vertiginosa pela intimidade de um jovem casal, em treze caleidoscópicas cenas”, que mostrarão “o modo como entre os dois se passa da grande paixão à rotina em pouco tempo”.

Ente maio e dezembro, destaca-se a iniciativa "Sound’art: Contos contados com som", através dos quais serão dados a conhecer, “de modo cúmplice, projetos de outras companhias e estruturas”, envolvendo compositores como Miguel Azguime (Miso-Music Portugal), o encenador João Cardoso, da Assédio, ou a Casa da Esquina, estrutura de Coimbra dirigida por Ricardo Correia.

Os espetáculos serão registados em imagem pelos fotógrafos Valter Vinagre, João Tuna, Paulo Nuno Silva, Margarida Araújo e José Manuel Rodrigues (Prémio Pessoa), na perspetiva de realização de uma exposição em 2018.

Ao longo do ano, o programa "LerCenas" centrar-se-á na leitura de peças de teatro em escolas secundárias da cidade, envolvendo alunos da Universidade Senior.

Em abril, realizar-se-á uma oficina de escrita criativa, dirigida por Joseph Danan, que vai resultar na criação de estruturas dramáticas a partir de temas propostos e em que “a única proibição é a crítica destrutiva” havendo, no entanto, sempre lugar à “opinião crítica alternativa”, sublinhou o encenador.

Um colóquio, intitulado “Teatro, espaço vazio e democracia” fechará, a 16 de dezembro, a programação de 2017 da companhia que coloca à discussão o projeto do Novo Teatro do Teatro da Rainha, instalações cuja construção deverá ser iniciada no segundo semestre deste ano.

A partir da maqueta, especialistas de diversas áreas vão discutir as relações que se poderão criar entre os atores e o público, num espaço que será “uma caixa vazia”, onde, de espetáculo para espetáculo, toda a disposição pode ser alterada.