"100 Moondog" é o título do espectáculo que o Teatro Maria Matos acolhe na quinta-feira, conduzido pelo pianista Filipe Melo e pelo baterista João Lobo, em torno do repertório do músico norte-americano Louis Thomas Hardin, que preferiu assinar como Moondog e de quem se celebram os 100 anos do nascimento.

Filipe Melo explicou à agência Lusa que esta será "uma homenagem a um génio pouco conhecido e celebrado da música", à boleia de um convite do programador Pedro Santos, daquele teatro municipal.

"Gostava de dizer que conhecia a música de Moondog há muito tempo, mas não é verdade. Não o conhecia e foi um músico que, em muitas técnicas, foi um inovador e um visionário, ao usar, por exemplo, compassos menos comuns num contexto de música não erudita", disse o pianista e arranjador.

Moondog, que morreu em 1999 aos 83 anos, ficou conhecido também como o "Viking da 6.ª Avenida", por ter vivido durante vários anos como poeta e músico de rua em Nova Iorque, envergando longas barbas e um chapéu com chifres.

No obituário, o jornal New York Times descreveu Moondog como um performer de rua "misterioso e extravagante", que fazia parte do quotidiano dos nova-iorquinos e que era aclamado na Europa como um "compositor avant-garde".

Muitos dos que passavam por ele na rua, lê-se no jornal, não sabiam que Moondog escreveu para rádio e televisão e as composições, reunidas em vários álbuns, atravessam vários géneros e formações musicais. Trabalhou com Philip Glass e Steve Reich e, numa ocasião, dirigiu a Orquestra Filarmónica de Câmara de Brooklyn.

Chegou-se a pensar que ele tinha morrido nos anos 1970, quando deixou de ser visto nas ruas, quando, na verdade, estava na Alemanha, onde viveu vários anos, e onde morreu muitos anos mais tarde, em setembro de 1999.

"A sua música seria tão estranha e atraente como a sua imagem: inventou instrumentos, emitiu ritmos invulgares, citou culturas pouco comuns, compunha para orquestras, namorou a pop, e deixou uma enorme poesia no ar a uma comunidade, cada vez maior, em dívida para com as suas muitas geniais ideias musicais", lê-se na nota de imprensa do Teatro Maria Matos.

O legado musical de Moondog é agora celebrado com Filipe Melo e João Lobo a rodearem-se de vários convidados para interpretar uma escolha "muito orgânica" de composições do músico norte-americano.

No concerto estarão, por exemplo, Luís José Martins (Deolinda e Almost a Song) e Norberto Lobo, Mariana Ricardo, instrumentistas da Orquestra Geração, e a atriz Crista Alfaiate.

Filipe Melo contou que quis saber mais sobre a vida de Moondog para entender também a música que vai transpor para o Maria Matos. "Não estava a perceber bem como é que tinha tanto conhecimento musical. Foi um homem que viveu cercado de todo o género de música. Ficava à porta dos clubes de jazz, lidou com a geração meio 'beatnik'".

Este ano, o centenário do nascimento de Moondog tem sido celebrado em concertos em vários países, numa altura em que a realizadora Holly Elson reúne financiamento para fazer um documentário sobre o músico.