A iniciativa parte da premissa de que o público e os intervenientes poderão descobrir "palavras de há 500 anos que nos podem servir hoje [assim como] palavras de hoje que nos podem servir daqui a 500 anos", recorrendo a textos icónicos de peças de teatro ou do mundo cinematográfico português, de acordo com a informação hoje divulgada.

O festival do teatro com direção artística de Tiago Rodrigues, diretor do TNDM, tem como destaque a leitura comentada da peça de Gil Vicente "Auto da Barca do Inferno" (1531), numa produção encenada pelo ator Nuno Nunes, que irá dirigir um elenco eclético de caras conhecidas como a atriz Ana Bola, o jornalista - responsável pela direção da revista literária Granta, em Portugal - Carlos Vaz Marques, o poeta e teólogo José Tolentino Mendonça e a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua.

No dia 21, o público da Sala Garrett irá assistir à "disputa de Anjo e Diabo pelas almas dos que partem (...), comentada por diversas personalidades", numa leitura em que Nuno Nunes viu a "possibilidade de representar uma certa imaterialidade dos corpos e das vozes", permitindo que as várias figuras presentes no texto "falassem a partir de dentro" de cada um dos membros da audiência.

À coreógrafa e dramaturga Lígia Soares cabe a coordenação artística do comentário e reflexão sobre "O Ato da Primavera", de Manoel de Oliveira, documentário histórico do cinema português que remonta a 1962 e que contou, na equipa de rodagem, com António Reis, António Soares e Domingos Carneiro.

Juntos, encenaram uma celebração popular da Paixão de Cristo, que Lígia Soares reinventa a partir da interpretação das peças por parte dos espetadores, num projeto que vive da interação do público com "telepontos e microfones (...), numa forma de encenação direta, sem ensaios e sem prévio conhecimento do texto".

A série de encenações fica completa com a leitura de textos desenvolvidos no âmbito do Laboratório de Escrita para Teatro de 2016/2017, num conjunto de trabalhos coordenados por Rui Pina Coelho - autor, crítico de teatro e docente na Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), nos arredores de Lisboa.

"Os Ratos", de Isabel Milhanas Machado, "Mãos ao alto: Ensaios para entrar no Paraíso", de Cecília Ferreira, "Os lugares de onde vemos sentados", de Fernando Giestas, e "Treva ou os Princípios da Higiene Funcional", de Sabrina D. Marques, constituem a seleção de projetos originais a serem apresentados, de 19 a 20 de outubro, e que assinalam a abertura da segunda edição do Voz Alta - Festival de Leituras, com bilhetes para cada encenação a custarem dois euros.

Atores do Teatro Nacional D. Maria II e atores em formação e estágio da ESTC irão dar voz às personagens dos mundos idealizados pelos autores, em peças que tão depressa se debruçam sobre "tentativa[s] de reflexão [acerca do] ato de ver", como esperam retratar a vida de "um casal de reformados [que] mata a insipidez dos dias a montar uma exposição de fotografia na sala de sua casa", para lidar com o "excesso de tempo e (...) a eterna saudade de uma filha (...) que morreu a fotografar a guerra".