Ao longo da carreira, Tom Jobim foi quase tudo: compositor, maestro, pianista, cantor e guitarrista, tendo participado em mais de 50 álbuns. E dos discos de António Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, saíram algumas dos temas mais cantados da história da música, segundo os dados da sociedade de direitos de autor dos Estados Unidos - apenas John Lennon e Paul McCartney estão à sua frente.

Jobim é considerado o "tom maior da música produzida no Brasil na segunda metade do século XX", escreve a o site G1. E mais de 20 anos depois da sua morte, as suas canções continuam a inspirar novos e velhos artistas. Por exemplo, em Portugal, Carminho editou um disco onde revisita os temas mais marcantes da carreira do músico.

"'Carminho canta Tom Jobim' nasceu de um convite da família de Tom Jobim a Carminho. Com acompanhamento da Banda Nova, a última formação que acompanhou Jobim (composta pelo filho e neto do criador da bossa nova, Paulo e Daniel Jobim, por Jaques Morelenbaum e Paulo Braga) o disco conta com as participações especiais de Chico Buarque, Maria Bethânia, Marisa Monte e da atriz Fernanda Montenegro", explica a editora Sony Music, em comunicado.

Mas a fadista portuguesa não foi a primeira a viajar pela obra de Tom Jobim. Anteriormente, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Vanessa da Mata e Diana Krall também cantaram canções do "maestro brasileiro".

"Garota de Ipanema": O grande sucesso de Jobim

Muitos lançaram discos dedicados a Jobim, mas foram muitos mais que cantaram "Garota de Ipanema", um dos temas mais marcantes da carreira do músico. A letra da música, escrita por Vinicius a pedido do amigo Jobim, nasceu com o nome "Menina que passa", mas acabou por ser reformulada e deu lugar ao título hoje conhecido por várias gerações.

A história do tema tem como ponto de partida o Bar do Veloso, na antiga rua Montenegro (atualmente rua Vinicius de Moraes), local onde o poeta e o compositor Tom Jobim se refugiavam no início dos anos 1960, com a companhia inebriante do whisky, para admirar o 'doce balanço' das ancas de uma jovem carioca.

Em 1965, Vinicius de Moraes confessou que a musa que inspirou o tema foi a adolescente Heloísa "Helô" Pinheiro. "Nunca respondi aos seus piropos, só entrava no bar para comprar cigarros para os meus pais ou passava por lá para ir gozar o sol nos meus dias de férias", afirmou Helô Pinheiro em 2012.

Três meses depois da primeira apresentação no Rio de Janeiro, a música foi interpretada pelos mestres da bossa nova na famosa sala de concertos Carnegie Hall, em Nova Iorque, dando início à internacionalização do tema. A canção seria posteriormente gravada em inglês por Astrud Gilberto, versão que ficou marcada pela célebre interpretação do saxofonista norte-americano Stan Getz.

Segundo o professor de literatura, melómano e especialista em bossa nova Carlos Alberto Afonso foi a bossa nova que influenciou o jazz, e não o contrário, "porque nessa época as melodias de Cole Porter já estavam desgastadas".

Para o especialista, a adesão dos norte-americanos à bossa nova também teve contornos políticos, afirmando que os Estados Unidos quiseram na altura contrariar os ritmos sedutores da salsa proveniente de Cuba com o tropicalismo brasileiro. Em 1967, a música ganhava uma dimensão internacional com a interpretação do emblemático cantor norte-americano Frank Sinatra.

Ipanema, um dos bairros nobres e mais conhecidos do Rio de Janeiro, é hoje paragem obrigatória para os amantes do jazz, da bossa nova e da música em geral. Nas ruas deste bairro pode encontrar-se, entre outros pontos de interesse, a casa onde Jobim viveu grande parte da sua vida e o bar que foi local de encontro dos dois autores, atualmente com uma programação diária dedicada à bossa nova. O bar chama-se hoje Garota de Ipanema e tem a partitura da canção pintada na parede, em homenagem a Vinicius e Jobim.

Jobim morreu a 8 de dezembro de 1994, em Nova Iorque, na sequência de uma embolia pulmonar. "Acho que ele sabia que era especial. Não viveu muito, mas viveu o suficiente para saber como se repercutiu a obra dele no mundo. Não diria que sabia que era um génio, mas sabia que era diferente", disse a sua esposa Ana Lontra Jobim.