Em comunicado enviado à agência Lusa, a estrutura cultural O Espaço do Tempo explicou que a 3.ª edição das Bolsas de Criação, lançada em setembro e que conta com o apoio do BPI e Fundação “la Caixa”, contempla apoios de 25 mil euros para cada um dos quatro projetos artísticos vencedores.

Esta edição “contou com 76 candidaturas, tendo sido admitidos/as criadores e criadoras com um mínimo de duas obras assinadas até à data de abertura das candidaturas e cuja primeira obra não fosse anterior a 2015”, de acordo com O Espaço do Tempo.

Um dos projetos vencedores intitula-se “Descansar” e foi apresentado por Raquel S. (diretora artística da associação Noitarder), consistindo num “criação que procura estudar os cemitérios e as diferenças que perpetuam, que diluem e que uniformizam”.

Cemitérios que “são lugares de memória e saudade, mas também lugares de esquecimento, estratificação social e de repositório de uma forma literária expressiva, emotiva e desierarquizada: as palavras nas campas", disse a autora, citada pelo Espaço do Tempo.

O júri valorizou “a clareza da proposta e a investigação subjacente à concretização do projeto, bem como um percurso que tem valorizado a riqueza da documentação inerente aos projetos anteriores desta jovem encenadora”, indicou a estrutura cultural.

O coletivo Arraial Cósmico, composto por Ana Libório, Bruno da Silva e João Estevens, venceu uma bolsa com “Cosmic Phase/Stage”, obra que “procura diluir as fronteiras entre o espaço da performance e da instalação, tornando-se um lugar de utopia e filosofia, uma reflexão da relação entre a arte e a tecnologia”.

“Os elementos do júri valorizaram o caráter inovador, experimental e transdisciplinar deste projeto, alicerçado num forte percurso de investigação destes criadores”, lê-se na nota.

Quanto a Lara Mesquita, graças à bolsa vai desenvolver o projeto “Que seria”, através de “um imaginário que revisita Otelo, de William Shakespeare, onde as pessoas negras são as privilegiadas, sendo Otelo um homem branco que ambiciona esse privilégio”.

Segundo Lara Mesquita, “a obra visa a desmistificação dos preconceitos raciais e a consciencialização do racismo e/ou práticas de discriminação e desigualdade”, tendo o júri destacado a “originalidade, solidez e pertinência da proposta, bem como a qualidade do percurso da criadora”.

Uma bolsa foi ainda destinada ao performer, curador e criador espanhol Julián Pacomio, radicado em Portugal, com o seu projeto “Toda a luz do meio-dia”, que consiste numa “investigação sobre o imaginário em torno da luz solar, a hora do meio-dia e as suas obscuridades”.

“O júri premiou a solidez da proposta, alicerçada em pressupostos claros e na qualidade da equipa artística, salientando igualmente a riqueza do ambiente transdisciplinar em que a mesma investe”, é indicado no comunicado.

O júri foi constituído por Gaya de Medeiros, John Romão, Maria João Guardão, Pedro Barreiro e Rui Horta.

Além do prémio monetário, as bolsas de criação, que procuram “apoiar a sustentabilidade do percurso dos criadores, aumentando as oportunidades de apoio nas áreas da dança, teatro, performance e cruzamentos disciplinares”, incluem duas semanas de residência artística para finalização das quatro criações vencedoras e estreia das mesmas no ano seguinte, em Montemor-o-Novo.