A nação lusófona virada para o Índico é um dos países mais pobres do mundo, segundo os índices internacionais, e tenta sair de uma grave crise económica.

Mesmo neste cenário difícil, “é possível pensar na cultura como uma forma de geração de renda e de emprego”, defende o professor universitário, em entrevista à Lusa, para explicar como funciona o que hoje se designa de economia criativa e que faz parte da sua área de estudo.

“Nós temos várias indústrias dentro desta grande indústria cultural e criativa e essas produzem muita riqueza. Nós não estamos a ser capazes de documentar com precisão o que estas empresas geram, quantas pessoas estão nelas empregues e quantas pessoas dependem dessas”, destaca.

Viver da cultura e criatividade em Moçambique passa por compreender o setor como este “vasto território”, diz, considerando que os artistas devem começar a pesquisar todas as alternativas relacionadas com os seus ofícios.

“Nós temos a tendência de pensar que as indústrias culturais são aquilo que é artístico. Não é verdade. Há todo um outro leque de atividades” relacionadas que devem ser exploradas, frisa o académico.

Além do mais, Moçambique tem uma matriz cultural diversificada, o que faz com haja mais que uma via para gerar rendimento.

“Eu olho para Moçambique e dou o exemplo da televisão, que é parte importante das indústrias criativas. Quantas pessoas trabalham nas estações televisivas”, questiona, concluindo que “é uma indústria forte” no país.

“Assim como no artesanato há pessoas que vivem de esculpir e vender para turistas. Famílias inteiras ganham o seu pão a partir disso e, como se diz na gíria, estão a formar-se muitos doutores graças a este ramo de atividade”, sublinha.

O desafio, segundo o músico moçambicano, está na adoção de uma legislação que defina critérios de acesso às profissões das chamadas indústrias criativas, na medida em que há ideia de que qualquer um é artista.

“Nestas áreas há muita usurpação, porque todo o mundo acha que pode ser artista ou pode ser criativo”, critica Rufus Maculuve, antigo músico dos Kapa Dech, umas das principais bandas moçambicanas dos finais da década de 1990.

Ao longo dos anos nota um problema persistente: a falta de escolas para lecionar, especificamente nestas áreas, o que se revela como um dos principais obstáculos para dinamizar a economia criativa.

Por outro lado, Rufus Maculuve fala ainda da necessidade de atualização das leis ligadas às artes, considerando que o quadro legal vigente foi aprovado num outro contexto económico.

“Nós ainda não definimos as condições de acesso nestas áreas e o resultado é que vamos ter muita oferta no mercado, mas talvez a qualidade não seja das melhores, porque as pessoas aprendem fazendo”, acrescenta.

O académico lembra ainda que a cultura tem de ser percebida na sua dimensão multifacetada, na medida em que, além de poder gerar renda, é um forte instrumento para definição das identidades culturais.

“A reputação de um país pode ser melhorada através das suas manifestações artísticas”, destaca Rufus Maculuve, que aponta, entre os setores mais dinâmicos e promissores das indústrias criativas em Moçambique, a música.

“Ela está presente em muitos momentos das nossas vidas. Perece-me um setor bastante promissor e, com a matriz cultural que nós temos, há muita coisa ainda por explorar”, conclui.

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