"A brecha entre o que os consumidores querem e a forma como a indústria (de TV) o proporciona cresceu tanto que a indústria agora tem de começar a tomar medidas", disse à AFP Jim Nail, analista da Forrester Research.

Viacom, Time Warner, Disney, 21 Century Fox, CBS: os resultados do segundo trimestre dos principais grupos de comunicação dos Estados Unidos confirmaram que os canais por cabo continuam a ser as suas principais fontes de rendimento.

No entanto, pela primeira vez este ano, os adultos norte-americanos passarão mais tempo na internet do que a ver televisão, quase cinco horas por dia em média, contra quatro horas e meia, respetivamente, previu a empresa especializada eMarketer num estudo publicado este mês.

Os dois meios de comunicação são, por vezes, usados em conjunto e o vídeo representa apenas uma parte do conteúdo consumido na web, acrescenta o estudo.

No entanto, um grupo como o Netflix, que oferece filmes e séries em catálogo na internet, em streaming sem download, consolida-se cada vez mais. A fórmula é muito popular entre as crianças, amantes dos desenhos animados nos tablets, e pelos fãs de séries de TV, que podem assistir aos episódios em sequência.

O Google acaba de lançar um adaptador, o Chromecast, para transferir a uma emissora conteúdos de vídeo em streaming. E de acordo com boatos recorrentes, os grupos Apple e Intel preparam serviços de televisão online.

"A televisão será sempre vista de forma linear, ao vivo, para a final do (campeonato de futebol americano) Superbowl ou acontecimentos da atualidade, mas o vídeo de entretenimento (filmes, séries) evoluirá para um modelo on demand", avaliou Nail.

Oportunidades para os proprietários de conteúdo

Diante desta nova situação, "se és dono de um canal de televisão, estás na mesma posição de um jornal. Haverá outras formas de ver o conteúdo e vais enfrentar dificuldades", advertiu o analista da Forrester Research. "Mas fores um proprietário de conteúdo, não deverás preocupar-te em absoluto", acrescentou Nail. "Terás de mudar de sócios para a difusão, substituir a operadora de cabo pela Netflix, por exemplo, mas nãos terá de mudar a tua perspectiva financeira ou sobrevivência", considerou.

Os grupos de comunicação também relativizaram o risco quando consultados pelos analistas do mercado.

Jeff Bewkes, presidente diretor da Time Warner (empresa matriz da HBO e da CNN), mencionou uma exibição na internet "complementar" para "sustentar o valor dos programas".

A Viacom destacou investir para se adaptar aos hábitos da população. "Algumas crianças consomem conteúdos nos tablets e se queres que o teu conteúdo tenha a oportunidade de ser consumido, deves tê-lo nos tablets", disse o chefe de operações, Tom Dooley.

O grupo posiciona-se "firmemente" neste mercado com acordos de distribuição, como o recentemente assinado com a Amazon para programas como "Bob Esponja" e "Dora, a Aventureira", e o seu canal infantil Nickelodeon tem a sua própria aplicação móvel de "grande sucesso", segundo Dooley.

"O streaming continua a ser um motor de crescimento enorme para nós", disse Leslie Moonves, presidente da CBS, que assinou um acordo exclusivo com a Amazon para assegurar a rentabilidade da sua série, "Under the Dome", baseada num romance de Stephen King.

Tanto a Viacom como a CBS viram neste trimestre os ganhos com direitos de transmissão dos seus programas subirem respectivamente 28% e 22%, algo que os dois atribuem a parte do efeito da internet.

Para os proprietários de conteúdos, a proliferação de serviços de vídeo online pode ter um efeito positivo, aumentando a concorrência pelos direitos de transmissão.

Para Nail, as empresas de televisão ainda têm "muito a fazer para responder à procura do consumidor e criar o modelo de negócios" que lhes permita ganhar dinheiro com o sucesso da internet.

Texto @AFP/ Foto @Lusa

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