Espártaco, Aníbal, Armínio, Fritigerno, Genserico, Alarico, Átila e o português Viriato. Estes são os oito homens que ajudam a derrotar o Império Romano no mais recente docudrama do Canal História, que estreia em Portugal nesta segunda-feira, a partir das 22 horas. Mas além deles houve uma figura feminina em destaque, a celta Boudica, que jura vingança depois de a sua comunidade ser invadida na década de 60 d.C. .

A líder dos icenos protagoniza um dos oito episódios da série e a atriz que lhe dá corpo começou por destacar-se como bailarina ou Miss Escócia aos 17 anos. Depois da adolescência, Kirsty Mitchell acabou por se dedicar à representação, em finais dos anos 1990, com participações em várias série britânicas pelo caminho, e hoje arrisca-se a tornar-se mais conhecida enquanto mulher de armas do que como a figura graciosa de outros tempos. O que só a enche de orgulho, como contou numa entrevista telefónica ao SAPO MAG:

SAPO MAG - "Barbarians Rising" está prestes a chegar a Portugal. Como a apresentaria para quem ainda não a conhece?
Kirsty Mitchell - É incrível participar numa série destas, sinto-me muito lisonjeada. Estou ansiosa para que mais pessoas a vejam, acho que é muito envolvente e diferente. É contada da perspectiva dos bárbaros, tem muita informação que eu desconhecia, e é fantástico ver a sucessão de personagens ao longo dos episódios, a forma como cada uma age de forma tão singular e a maneira como contribui para a luta pela liberdade do conjunto.

Há nove personagens principais, mas Boudica é a única mulher...
Há outras personagens femininas na série, mas ela é a principal, a única que tem a sua própria história. Pela pesquisa que fiz, percebi que havia outras guerreiras na mesma altura, mas ela é a única sobre a qual os romanos escreveram. Porque os bárbaros não deixaram registos, só os romanos, que a descreveram como uma mulher feroz e assustadora. Estamos a falar de uma mulher cujo exército derrotou três batalhões romanos.

Já fez parte de outras produções históricas, como a minissérie "Attila". Em que medida é que esta experiência foi diferente?
Esta é mesmo muito diferente. Em "Attila", a minha personagem fazia parte de uma história maior, aqui a Boudica comanda a própria história, e isso deixa-me muito orgulhosa. Não é um tipo de personagem fácil de encontrar numa produção histórica ou mesmo noutras...

Como chegou ao âmago da personagem? O que move Boudica?
A Boudica é uma lutadora pela liberdade. Para ela, não havia outra opção a não ser lutar contra os romanos. Ela reagiu à invasão romana, não saiu de casa à procura de uma guerra. Mas os romanos tiraram-lhe a casa, a liberdade, e mataram os druidas da sua comunidade. Destruíram a sua religião e isso foi o maior insulto para os barbáros. Daí a sua preocupação em passar uma imagem de ferocidade, porque ela tinha de ser forte para assustar os romanos. E claro que também tinha de ser ainda mais forte por ser mulher, sobretudo depois de a torturarem e de violarem as suas filhas.

Boudica

Como foi o processo de composição? Partiu só dos argumentistas ou deram-lhe espaço?
Tenho mais de 20 livros sobre aquele tempo. Li tudo sobre César e o que estava para trás, quis saber qual a história dos pais dela, pesquisei como viviam, o que comiam... tudo. Quis saber tudo sobre o que envolvia a personagem. Claro que não há nada que me diga como é que ela andava, como falava... essa parte tive de imaginar a partir dos dados do contexto que fui juntando. Também vi outras interpretações da personagem dela, mais antigas, porque queria oferecer algo novo e fresco. Mas principalmente quis dar e entender porque é que ela agia assim.

Ultimanente as séries épicas, de tempos remotos, têm sido alguns dos maiores casos de sucesso televisivo. "Vikings", também do Canal História, "Marco Polo", "A Guerra dos Tronos"... Em que é que "Barbarians Rising" difere dessas eventuais comparações fáceis?
Sim, essas séries também são dramas de épocas remotas, mas "A Guerra dos Tronos", por exemplo, parte dos livros, é pura ficção, tem outra liberdade. Nós tentámos ser muito fiéis aos factos, o mais informativos e historicamente corretos possível. Claro que há alguns pormenores que são especulação, já que não temos forma de saber tudo, mas houve uma grande preocupação com o rigor nesta produção.

Tendo em conta que há muitas histórias e personagens na série, poderá haver uma segunda temporada?
Não vamos fazer outra temporada porque a história de cada personagem termina quando a deixamos e passamos à próxima. Talvez haja outras séries que possam expandir a história de uma personagem, já que não contamos tudo o que há para contar sobre elas, mas "The Barbarians" começa e acaba aqui, nestas oito horas.

Qual foi o maior desafio deste papel?
Tudo foi muito desafiante. Estive sempre muito ocupada mas adorei cada minuto. Tinha muito diálogo para assimilar, mas ao mesmo tempo foi um papel muito físico. As emoções da personagem e da ação eram muito fortes e esse estado acabou por passar para a minha vida na altura, até porque quase todo o meu tempo foi dedicado à série, foi um trabalho muito absorvente. Se não estava nas filmagens, estava a ler para saber mais e mais sobre a Boudica. Não quis deixar passar nenhum pormenor.