Uma casa, 11 pessoas, 120 dias sem privacidade e 20 mil contos. Era esta a mensagem do genérico do “Big Brother”. A banda sonora completava a definição do formato: “Vive, que o mundo lá fora está a olhar para ti”. 16 anos depois, a TVI continua a apostar no formato com a estreia da sexta edição de "Secret Story - A Casa dos Segredos" e voltamos a olhar para “a novela da vida real”.

1999. Piet-Hein Bakker, responsável pela Endemol em Portugal, tenta vender o “Big Brother” à SIC. A estação de Carnaxide aceita comprar, mas com uma condição: não produzir o programa. O objetivo era que nenhum outro canal em Portugal tivesse o formato. A Endemol não aprovou a ideia e foi bater à porta da TVI. José Eduardo Moniz, diretor do canal, não hesitou e comprou o programa por um valor mais baixo, conta Felisbela Lopes no seu livro “20 anos de televisão privada em Portugal”.

Quando foi apresentado a José Eduardo Moniz, “Big Brother” (BB) apenas tinha sido exibido na Holanda. Nos meses seguintes chegou à Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Reino Unido, onde se confirmou o sucesso do formato.

BIG BROTHER

2 de setembro de 2000 foi o dia que marcou um novo rumo para a TVI e para a televisão em Portugal. O canal de Queluz de Baixo renova a programação e estreia o primeiro reality show.

“Não foi uma aposta arriscada porque a TVI não tinha nada a perder. Estava em terceiro lugar nas audiências”, sublinha a professora e investigadora da Universidade do Minho, Felisbela Lopes, ao SAPO Mag.

Mas a aposta só se provou certa mais de um mês depois, a 16 de outubro de 2000, quando o concorrente Marco deu um pontapé a uma colega. O regulamento do “BB” impunha a saída do participante da “casa mais vigiada do país”. E assim foi.

TVI dedicou 37% do noticiário ao "pontapé do Marco"

No dia seguinte, a TVI centrou a programação no mais mediático pontapé da televisão portuguesa. No dia em  que Jorge Sampaio anunciou a sua recandidatura a Presidente da República, o “TVI Jornal” e o “Jornal Nacional” abriram com um amplo destaque ao acontecimento do reality show, recebendo o concorrente expulso em estúdio e dedicando 16 peças ao tema (37% do tempo noticiário), revela Margarida Martins na tese “‘Ética e Informação na TVI”.

Apesar da controvérsia, a escolha editorial revelou-se um sucesso nas audiências. “A redação da TVI criou uma secção que se chamava “redação Big Brother” e que fazia peças diárias sobre o que se passava dentro da casa”, relembra Felisbela Lopes, especialista em assuntos televisivos.

"A televisão nestes 15 anos inovou pouco. Para os jovens adultos, a memória da televisão é a memória do Big Brother", Felisbela Lopes.

“Foram várias as mudanças com o aparecimento do Big Brother, a principal das quais terá sido a passagem da TVI para a liderança das audiências em Portugal”, destaca a professora da Universidade do Minho, acrescentando que o formato “transformou o modo de pensar a programação dos canais televisivos em horário nobre, nomeadamente na SIC”.

À volta da casa da Venda do Pinheiro, a TVI criou uma mini-grelha dedicada exclusivamente aos concorrentes, explica Felisbela Lopes. “A mini-grelha era feita essencialmente com programas de entretenimento. Depois, a SIC enveredou por outro tipo de programação e tudo isto originou um abandono dos programas de informação semanal nas grelhas dos canais privados em horário nobre”.

Além das mudanças nos programas informativos, o “grande irmão” serviu de âncora para a ficção nacional. “A ficção nacional tornou-se também líder de audiências, destronado a ficção brasileira”, afirma a professora de televisão da Universidade do Minho ao SAPO Mag.

BIG BROTHER

15 anos depois, o que mudou? Praticamente nada. “A televisão nestes 15 anos inovou pouco. Para os jovens adultos, a memória da televisão é a memória do ‘Big Brother’. Não conhecem outro tipo de televisão, o que não é bom. A televisão deveria ser mais inovadora, deveria apostar noutros formatos em horário nobre, nomeadamente. Mas, em tempos de crise, ninguém faz mais porque ninguém quer perder dinheiro”, advoga Felisbela Lopes.

Na TVI, “Casa dos Segredos” e “A Quinta” são alguns exemplos de formatos que seguem a linha do “Big Brother” e que são líderes de audiência edição após edição. A SIC tem apostado menos em formatos do género, sendo que a primeira foi com “Acorrentados” (janeiro de 2001). O programa estreou um dia antes da segunda edição do reality show de Queluz de Baixo e conseguiu conquistar 33,1% do quota de mercado. Porém, no confronto direito o formato de Carnaxide saiu derrotado.

A poucas semanas da estreia de “A Quinta”, a fórmula da TVI continua a ser a mesma de há 15 anos. Alguns investigadores chamam-lhe estratégia sanduíche: “Reality show – Noticiário – Reality show – Ficção portuguesa – reality show”.

Será que no futuro a estratégia vai continuar a ser a mesma? “Sim. Num futuro próximo vai continuar a ser assim porque a TVI tem uma fórmula de sucesso. Só [altera] se a SIC ou a RTP colocarem no ar outro formato que reúna o interesse das audiências, ao ponto de colocar o formato no primeiro lugar da liderança das audiências. Se isto não acontecer, a TVI vai continuar com aquilo que é a sua galinha de ovos de ouro”, sublinha a investigadora em assuntos televisivos.