O último "Late Show with David Letterman" representa o fim de uma instituição da cultura norte-americana, que teve milhões de espectadores e inspirou uma geração de comediantes.

O programa final começou com os ex-presidentes George H. e George W. Bush, assim como Bill Clinton e o atual presidente Barack Obama, que foram filmados a repetir, um após o outro, "o nosso longo pesadelo nacional acabou".

"Letterman vai reformar-se", disse Obama ao lado do comediante de 68 anos num segmento pré-gravado. "Está a brincar, certo?", disse um inexpressivo Letterman após o presidente parecer indiferente.

A noite foi repleta de aplausos entusiasmados de um público VIP, com muitas piadas sobre o próprio Letterman, brincadeiras com celebridades e flashbacks com momentos memoráveis.

Atores como Alec Baldwin, Steve Martin, Bill Murray e Jim Carrey, além de Jerry Seinfield e Tina Fey, estavam entre as pessoas que leram o "Top 10" de despedida, com "as 10 principais coisas que sempre quis dizer a Dave". Com frases sucintas, todos prestaram um tributo ao humor cáustico do apresentador veterano.

"Obrigado e boa noite", afirmou Letterman no final do programa de número 6.028, quando chamou as homenagens de "lisonjeiras, embaraçosas e gratificantes". "Obrigado por tudo, vocês deram-me tudo", disse aos fãs. Também agradeceu à sua esposa, Regina, e ao filho do casal, Harry, de 11 anos, que estava no público.

Estrelas do rock, como os Foo Fighters, tocaram no programa para a multidão reunida no Ed Sullivan Theater, de Nova Iorque.

Recompensa inimaginável

Letterman anunciou a reforma em 2014 e, com a aproximação da data do último programa, passou a receber muitas homenagens por parte de celebridades emocionadas e da imprensa.

Os críticos elogiaram em Letterman sua combinação de inovações com entrevistas tradicionais e a inspiração para alguns dos mais talentosos comediantes das últimas décadas, tanto nos Estados Unidos como na Grã-Bretanha.

"Sinto-me nu e assustado", admitiu o apresentador ao canal CBS no domingo. "Qualquer mudança importante na minha vida deixa-me petrificado". Mas uma vez que a mudança foi assimilada, "a recompensa tem sido inimaginável", acrescentou.

Letterman teve o seu primeiro talk-show noturno na NBC em 1982, antes de se mudar para a CBS em 1993 para apresentar o "Late Show", depois da maior decepção da sua vida: perder para Jay Leno a oportunidade de suceder Johnny Carson no "Tonight Show".

Ao princípio, as audiências de Letterman na CBS superaram as de Leno na NBC, mas este último conseguiu uma entrevista com Hugh Grant em 1995, pouco depois de o ator britânico ter sido detido com uma prostituta, e as audiências do "Tonight Show" nunca mais foram superadas pelo "Late Show".

Momentos inesquecíveis

Sarcástico, às vezes irritante, Letterman era temido por algumas celebridades e passou por momentos complicados.

Cher chegou a afirmar numa entrevista que o apresentador era um "idiota". Por outro lado, Letterman desfrutava de uma boa ligação à frente das câmaras com muitos convidados.

Durante a carreira, Letterman recebeu 12 Emmys e foi nomeado para um total de 67, incluindo a impressionante marca de pelo menos uma nomeação a cada ano entre 1984 e 2009.

Outro momento notável do seu programa foi registado após os atentados de 11 de setembro de 2001, quando foi o primeiro comediante a voltar ao ar, apenas seis dias depois dos ataques da Al-Qaeda que mataram mais 3000 pessoas.

Em janeiro de 2000, passou por uma cirurgia cardíaca e cinco semanas depois estava de volta ao ar. Os primeiros entrevistados foram os seus médicos.

Em 2009, admitiu que teve alguns casos com funcionárias da produção do programa e pediu desculpas no ar, à sua esposa e aos colegas de trabalho.

Letterman será substituído a partir de 8 de setembro por Stephen Colbert, de 51 anos, que até ao ano passado apresentava o "Colbert Report" no canal Comedy Central. "Acredito que ele vai fazer um ótimo trabalho", afirmou Letterman.

"Pela primeira vez desde que o Harry nasceu, a nossa agenda de verão não será decidida por mim. Estará completamente ditada pelo que o Harry quiser fazer", disse, ao comentar a reforma.

@AFP