Organizar a edição 2018 do Festival da Eurovisão “é uma oportunidade de investimento e não uma despesa”, disse à Lusa Jorge Mangorrinha, autor de vários estudos sobre a Eurovisão, defendendo que Portugal deve aproveitar “a oportunidade estratégica” de realizar o evento cujas repercussões “estão muito para além do concurso propriamente dito”.

Para o investigador da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, “importa ver este fenómeno eurovisivo tal como se apresenta a concorrência que existe na economia do turismo à escala mundial” já que o certame é potenciado por “uma rede em constante evolução, de povos e lugares que transcendem as fronteiras históricas da Europa, com efeitos nas correntes turísticas”.

“A presença de dezenas de milhares de visitantes durante duas semanas é um desafio, não só para a RTP, mas também para o Governo, as empresas e a capital portuguesa”, considera Mangorrinha, que nos dois últimos anos desenvolveu um estudo sobre como Lisboa se deverá preparar para receber o festival.

O anteplano que coordenou no quadro académico, “exercitando já essa possibilidade organizativa em Portugal, passou por admitir as variáveis essenciais: infraestruturas, transportes, plano de emergência e segurança, hotelaria, comércio, animação diurna e noturna, capacidade de carga dos espaços e especificidade da procura turística, com impactos físicos, culturais e económicos”, explicou.

O estudo não deixa dúvidas de que Lisboa “tem condições para receber o Festival da Eurovisão”, já que “o MEO Arena em particular e o Parque das Nações em geral, designadamente a estrutura da FIL, capacitam a cidade para o espetáculo e para os eventos paralelos, para além das praças principais da Baixa, que podem ser polos alternativos de atuação e promoção da música, nos dias antecedentes à final”.

O facto de Portugal ser um país "com atrações reconhecidas (clima, luz, história, cultura, tradições, gastronomia, hospitalidade e diversidade concentrada) e de a marca ‘Lisboa’, em particular, ser reconhecida e premiada em termos internacionais” concorrerá, no entender do investigador, para um aumento da procura turística, designadamente “dos países “escandinavos e do Leste”, aqueles em que “mais se faz sentir o entusiasmo pelos festivais da Eurovisão”.

Para o autor do estudo, “os 20 a 30 milhões de euros de despesa [com a realização] podem ser recuperados ou ultrapassados em retorno, a curto, a médio e a longo prazo” no pressuposto de que “organizar é antes do mais prever estrategicamente”, estudando em detalhe as parcerias a estabelecer e a criação de condições para a maximização da atratividade do evento, quer para os turistas quer para os residentes.

Ou seja, “obter amplo suporte público antes, durante e depois” de o festival gerar dividendos, “em termos de conhecimento, imagem, economia, cultura, reputação, estatuto e orgulho local”, sublinhou Jorge Mangorrinha.

Porém, defendeu ainda o investigador, “a responsabilidade da RTP não se esgota na organização do festival em maio de 2018”, devendo passar, também, por “promover a pedagogia nas suas grelhas de programação e alargar culturalmente os seus horizontes”.

Até porque o festival será simultaneamente um desafio para a promoção da música portuguesa à qual “muitos se quererão juntar agora, até profissionalmente, mesmo que tenham sido, antes, preconceituosos acerca do tema”, concluiu Mangorrinha.