"Eu desmenti categoricamente a notícia", vincou Jorge Tomé, dirigindo-se aos deputados da comissão de inquérito sobre o Banif, onde hoje está a ser ouvido pela segunda vez desde o arranque das audições, em março.

Nessa noite de 13 de dezembro, um domingo, Tomé falou com o comentador da TVI António Costa, que já foi ouvido na comissão de inquérito, tal como o diretor de informação da estação televisiva, Sérgio Figueiredo.

"António Costa ligou-me dizendo que tinham essa notícia na redação da TVI", disse o antigo presidente do Banif, acrescentando que a informação "não tinha pés nem cabeça", e as "várias versões" que a mesma mereceu no rodapé do canal de notícias TVI24 apenas "acirraram" a notícia.

A estação de Queluz de Baixo noticiou a 13 de dezembro de 2015 (um domingo à noite) que o Banif ia ser alvo de uma medida de resolução, e tal notícia terá precipitado a corrida aos depósitos, cuja fuga foi próxima de mil milhões de euros na semana seguinte, segundo revelaram no parlamento vários responsáveis.

Ao longo da noite houve vários rodapés a passar na TVI24, e o diretor de informação revelou no parlamento que uma carta enviada pelo Banco de Portugal (BdP) para o Ministério das Finanças foi a "peça mais importante" para a elaboração e publicação da notícia sobre a resolução do Banif.

"A carta do Banco de Portugal para o Ministério das Finanças foi uma fonte documental, porventura a mais recente" antes da publicação da notícia da TVI sobre a resolução do Banif, uma semana antes de a mesma ser anunciada pelas autoridades, afirmou Sérgio Figueiredo.

O responsável, ouvido a 18 de maio na comissão de inquérito, declarou que a notícia não foi desmentida porque, advoga, "estava certa".

O jornalista diz todavia arrepender-se de, nessa noite de 13 de dezembro, um domingo, "não ter interrompido a emissão desportiva" que estava a dar no canal de notícias TVI24, reconhecendo que se poderia "ter aberto um especial de informação, para que o que a estação estava a passar não se limitasse a frases" em rodapés.

Jorge Tomé, hoje escutado novamente no parlamento, declarou ainda ter ficado "surpreendido" por no dia 18 de dezembro, após a notícia da TVI, terem chegado propostas para a compra do Banif.

"O único contacto que houve foi de António Costa [comentador] para comigo, nessa noite. Depois trocámos SMS. Tentei falar com o dr. Sérgio Figueiredo, que me mandou um SMS, confirmou-me que aquela notícia era a notícia que tinha", prosseguiu Tomé.

No dia seguinte "houve de facto contactos" com o diretor de informação da TVI, mas reconhece Tomé, tais deveram-se "mais à iniciativa dele" que à do gestor.

"Disse-lhe que [a notícia] era irresponsável, leviana, e ia ter consequências muito graves. Disse e escrevi", concretizou Jorge Tomé.

A 20 de dezembro do ano passado, o Governo e o BdP anunciaram a resolução do Banif com a venda da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a criação da sociedade-veículo Oitante para a qual foram transferidos os ativos que o Totta não quis comprar.