A atriz brasileira estará também presente nos Globos de Ouro, onde entregará o prémio de Teatro. Numa conversa com os jornalistas ela falou sobre a «Griselda», a sua personagem na novela de Aguinaldo Silva, sobre as suas origens açorianas e muito mais. Leia aqui o essencial dessa entrevista coletiva.

Quem é a "Griselda", personagem que a Lília interpreta em "Fina Estampa"?
A "Griselda" foi um grande presente que o Aguinaldo (Silva) me deu. É uma mulher honesta, trabalhadora, com valores, que tem tudo o que as outras mulheres têm mas que não o vive da mesma forma. Ela luta acima de tudo para sobreviver, faz qualquer coisa para criar os filhos. É uma mãe durona, que impõe limites, mas que "leva" da filha para se cuidar um pouco mais e tirar partido do lado feminino.

Como é que a Lília conseguiu abdicar do seu lado feminino? (Na novela Lília surge de fato-macaco, boné na cabeça, sem maquilhagem e de buço).
Foi muito difícil para mim. Gosto de andar arrumadinha, composta, não sou exageradamente vaidosa, mas gosto de cuidar de mim. Tive que tomar uma opção, ou eu tirava o buço e a personagem perdia um pouco da sua credibilidade, ou eu assumia a "Griselda" e dava ao público uma heroína que podia ser a vizinha do lado. Então deixei ficar o buço, descolorava para sair à rua. Na maior parte dos dias eu nem passava na sala de maquilhagem, porque via as minhas colegas a serem maquilhadas, penteadas, bem vestidas e eu ali, de macacão, boné enfiado na cabeça, buço, cara lavada... Vida de ator às vezes pode ser difícil.

Essa foi a dificuldade do papel?
Também foi. Mas foi a primeira heroína que eu fiz para o Aguinaldo e eu queria ficar bem, queria fazer um bom trabalho, ficar na história da televisão, queria que ele se orgulhasse de mim. E isso acho que consegui.

A Lília em "Fina Estampa" passa a vida a fazer "biscates", a arranjar coisas. Lá em casa, na vida real, pega na chave de ferramentas?
Eu até posso pegar mas sou mais para dar ordens: ‘isto precisa ser arranjado, ou aquilo tem que ser pintado'. Sou mais de chamar alguém para fazer as coisas. Mas sei pegar na chave de grife como ninguém... Aprendi na novela. Já o que fazer com ela...

Apesar do seu ar pouco feminino a "Griselda é disputada por dois dos galãs da novela, o Paulo Rocha e Dalton Vigh. De certa forma é um contra-senso...
Quando eu li isso no guião pensei: ‘Meu Deus, como é possível que aqueles dois homens lindos me vão disputar, se eu vou ter esse aspeto? Isso não vai resultar...'. Mas a primeira vez que contracenei com o Paulo percebi que ia dar certo. Ele se apaixonou pelo olhar meigo dela, pela força e honestidade da "Griselda". E também é bom porque desmistifica a ideia de que só as mulheres bonitas têm direito ao amor. Os dois homens que disputam a "Griselda" vêm muito mais para além do seu aspeto, vêm a pessoa maravilhosa que ela é.

Como foi contracenar com o Paulo Rocha?
Nós ficámos amigos e até passámos o Natal juntos. Identificámo-nos imediatamente, foi muito fácil trabalhar com ele. É uma pessoa encantadora, educado, gentil, muito bom ator. Ele fez um enorme sucesso na rua e nada abalou a postura dele. Continuou a mesma pessoa humilde que chegou ao Brasil até ao final da novela.

A "Griselda" foi a personagem da sua vida?
Não posso destacar só a "Griselda". Eu diria que tive três personagens que foram as minhas dádivas. A "Marta", de Páginas da Vida, "Amorzinho", de Tieta, e agora "Griselda", de Fina Estampa.

Já tinha conhecimento dos problemas legais do Paulo Rocha em Portugal?
Soubemos através da comunicação social, mas nada disso afetou o relacionamento dele com os colegas ou mesmo com a Globo que acabou por contratá-lo para ficar no Brasil. Ele contou-nos a verdade sobre o caso, nós sabemos que ele agiu em defesa. Se ele fosse outro tipo de pessoa talvez tivéssemos colocado em dúvida alguma coisa. O Paulo é uma pessoa muito tranquila, muito meiga, muito bem formada. Então não mudou nada. E apesar de tudo o que foi escrito, ele manteve-se sereno no trabalho e sempre profissional.

A chegada dos atores portugueses ao Brasil é bem encarada pelos colegas brasileiros?
Muito bem encarada. Não existe essa coisa de ‘eles vêm roubar o trabalho de outros'. A Globo é uma enorme produtora, tem sempre muitas produções e existe trabalho para todos. E os portugueses têm um enorme talento. Assisti a alguns episódios de "Aquele Beijo" e achei a Marina Mota uma atriz maravilhosa, com um talento gigante. Igualmente o Ricardo Pereira é um ator fantástico, bonito, boa gente. Eu gosto de receber bem os portugueses lá porque um dia pode ser que eles me retribuam...

Isso quer dizer que gostaria de trabalhar em Portugal?
Adorava. Neste momento não poderia mudar a minha vida, porque a minha filha (Júlia) tem 15 anos e não consigo pensar em deixá-la sozinha, mas no futuro teria muito prazer em trabalhar em Portugal.

Tem sido acarinhada na rua?
Muito mais do que eu esperava. Às vezes tenho vontade de filmar para mostrar aos meus amigos quando chegar ao Brasil. As pessoas dirigem-se a mim e são muito gentis, dizem que gostam do meu trabalho. Normalmente dizem que não gostam muito de novela brasileira, mas que vão ver "Fina Estampa" por causa de mim. Tem sido muito bom sentir o carinho de todos.

A Lília tem origens portuguesas, a sua mãe era açoriana. Conhece os Açores?
Conheço S. Miguel, ainda tenho lá família. Já visitei várias vezes, acho que é um dos sítios mais bonitos do mundo, a cor da água do mar é única e as hortênsias são deslumbrantes. O único senão é o facto de a ilha ser vulcânica e eu ficar sempre um bocadinho em pânico, mas gostava de voltar mais vezes.

É a primeira vez que a Lília vai estar presente nos Globos de Ouro e subir ao palco para entregar um dos prémios. Está animada?
Já tinha sido convidada várias vezes, mas nunca tinha conseguido vir. Estou muito entusiasmada porque já percebi que é uma festa cheia de glamour, de gente bonita e bem vestida.

Já escolheu o vestido?
Eu trouxe dois vestidos, ambos de estilistas brasileiros, mas agora estou na dúvida e acho que ainda vou dar uma vista de olhos pelas lojas, porque não sei se os que eu trouxe são apropriados. E vou subir ao palco entregar o prémio de Teatro, que me deixa muito honrada, porque eu comecei a minha carreira no Teatro e tenho uma grande paixão pelo palco. Tenho a certeza que vou adorar a experiência.

Quando regressa ao Brasil?
Infelizmente é já na próxima segunda-feira, mas espero voltar muito em breve.