Já estava na altura de alguém fazer a "wu-tang clanização" do universo Marvel no cinema ou na televisão. Ou assim pensa Cheo Hodari Coker, o criador, showrunner e argumentista de "Luke Cage", produção na qual expõe orgulhosamente a óbvia influência do hip-hop numa adaptação de super-heróis da BD.

O hip-hop dos Wu-Tang Clan ou de Notorious B.I.G., por exemplo, referências máximas do ex-jornalista musical na arte de contar uma história. "Eles conseguiam criar todo um quadro só com as palavras", partilhou o norte-americano em entrevista ao SAPO Mag num encontro com a imprensa na capital francesa.

Bob Marley é outra figura inspiradora desta história ambientada no Harlem, bairro nova-iorquino indissociável da comunidade afro-americana. "Ele criava música extremamente bela mas também profundamente política", salienta. "Mas por muito políticas que as canções fossem, essa vertente nunca se sobrepunha à música em si", acrescenta.

Coker confessa que teve uma ambição comparável ao desenvolver a série disponível no serviço de streaming desde 30 de setembro. "É uma história que congrega um cojunto de questões atuais e sérias mas que não deixa de ser divertida", explica.

Se canções como "Somebody's Gotta Die" ou "Niggas Bleed", entre outras de Notorious B.I.G., têm ressonância direta em alguns elementos destes 13 episódios, o showrunner lembra que também é, há muito, fã de Luke Cage, um dos heróis negros mais populares e veteranos do universo Marvel, surgido nos anos 1970. E esse acompanhamento da personagem deu um peso adicional à tentativa de manter esta adaptação fiel ao espírito da BD - mesmo que não necessariamente ao dos primeiros tempos do protagonista.

"Aqui ele é um herói discreto mas forte. Essa versão deriva diretamente da interpretação de Brian Michael Bendis nos comics, que deu um novo fôlego a Luke", conta. Como seguidor assumido da BD, Coker sabe que Bendis foi também o criador de Jessica Jones, a super-heroína que inspirou a série homónima na qual Luke Cage se estreou na televisão. "Quis expandir o universo dele e a sua história, mas sem contadizer o que já tinha sido mostrado na série dela", realça. A julgar pelas primeiras reações da crítica e de muitos espectadores, o fã tornado showrunner parece ter sido bem sucedido.

O SAPO Mag viajou a convite da Netflix.