Memórias da Eurovisão

"Este é o sétimo ano que venho à Eurovisão. Desde miúdo que gosto do concurso, acho que o ano que marcou o arranque deste meu 'guilty pleasure' foi o de 1991 - em Itália, onde levamos a "Lusitana Paixão" e a Dulce Pontes, altura em que ainda havia orquestra e o ano em que quase todas as músicas eram ótimas, na minha opinião, claro. Até agora foi o melhor festival de sempre para mim.

Quanto às edições da Eurovisão a que venho desde 2011, a de 2011 foi brutal porque foi a primeira e parecia um puto numa loja de doces. Em 2012, em Baku, também foi uma experiência inacreditável pois foi o ano em que fui o comentador português para a RTP, um dos trabalhos que mais gostei de fazer na minha vida, ainda por cima porque estava acompanhado por uma produtora exímia, que aliás agora é a chefe da delegação Portuguesa na Eurovisão (Carla Bugalho). Quando trabalhamos com profissionais e pessoas bem formadas deste calibre, aliando-se a isto o facto de estar a comentar um concurso sobre o qual sou um bocadinho enciclopédia e adoro, é perfeito.

O ano passado, em Estocolmo, na Suécia, foi provavelmente o melhor produzido, organizado, ... o que para nós que estávamos lá, fez com que fosse uma das melhores Eurovisões de sempre.

Os irmãos Sobral

A canção portuguesa deste ano tem emocionado toda a gente aqui em Kiev. No ensaio geral, durante a atuação do Salvador, o silêncio era total e foi sem dúvida alguma a maior ovação da noite. Muitas das pessoas choravam no fim e tudo, tal é o talento do Salvador e a qualidade da música da Luísa.  Tenho um carinho muito especial pela Luísa que foi concorrente quando apresentava o "Ídolos", na SIC, com a Sílvia Alberto e é tão bom ver o trabalho dela. Quanto ao Salvador é uma pessoa tão genuína, tão bom intérprete, tão talentoso que não se me ocorre nenhuma palavra suficientemente boa e plena para o descrever.

A edição de 2017

Claro que ganhar é quase uma missão impossível mas acredito que podemos ter aqui o nosso melhor resultado de sempre. A música italiana é fortíssima e muito boa - se eu estivesse em Portugal, era em quem votaria, já que como é sabido não podemos votar no nosso próprio país e, por isso, não podendo votar em Portugal era em Itália que votaria.

Aqui o que se comenta é que teremos certamente uma ótima votação no júri, sendo a votação do público um bocadinho mais imprevisível - se bem que desde que o comentador islandês, com quem tinha trabalhado em 2012, veio ter comigo e disse que toda a cabine de comentadores islandesa chorava emocionado com a atuação do Salvador... Por isso, se a Islândia, que não percebe uma palavra do que estamos a cantar, se consegue comover com tudo o que o Salvador consegue passar com a sua interpretação magnífica, já acredito em tudo.

Acho sinceramente que a Luísa está de parabéns pelo maravilhoso tema que compôs, o Salvador pelo espetáculo de músico que é, e a RTP pelo empenho que pôs no Festival da Canção este ano e por estar a tentar mudar as coisas e a encarar a Eurovisão de uma forma mais seria e profissional.

Acho sinceramente que merecemos e vamos estar no TOP 5 este ano. Se me enganar... olha, é a vida!"

Pedro Granger, em Kiev